São Paulo, terça-feira, 26 de novembro de 1996
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Comissão do PT vai punir 'desobedientes'

PATRICIA ZORZAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A Executiva Estadual do PT em São Paulo vai iniciar uma operação para enquadrar dissidências e impedir que conflitos internos prejudiquem o desempenho do partido em futuras eleições.
Para isso, o PT paulista aprovou ontem a montagem de uma Comissão de Ética para analisar as disputas dentro do partido.
O primeiro caso a ser averiguado pelo grupo será Diadema, onde os petistas perderam a eleição depois de ocuparem a prefeitura por três mandatos consecutivos. É quase certo que haverá intervenção do partido na cidade.
"As disputas internas chegaram a um grau de degeneração que é insuportável você estar dentro do PT hoje. É um grau de esgarçadura que impede uma convivência democrática, fraterna e civilizada", afirmou João Paulo Cunha, presidente do partido no Estado.
Na avaliação da executiva paulista, em Diadema e Santos ainda faltou "respeito às decisões globais e à estrutura partidária".
O comando partidário avalia que este fenômeno vem se espalhando. "Por isso está virando uma preocupação", declarou Cunha.
"Não vamos deixar que os fatos ocorridos em Diadema se generalizem. Não vamos ficar quietos diante de atitudes de autoritarismo e fundamentalismo como aquelas (de Diadema)", disse Francisco Campos, secretário de comunicação da executiva.
Diadema
A campanha do partido nesta cidade do ABCD paulista foi marcada por acusações entre o candidato José Augusto da Silva Ramos e o prefeito José Filippi Jr.
Cunha não descartou a expulsão de membros do partido na cidade. "Um setor pode ser convidado a sair", declarou ele à Folha.
"Pessoas estão se tratando como inimigos. E inimigos pressupõem eliminação. Se são considerados inimigos, um lado vai ter de sair."
A comissão vai intervir ainda em Diretórios Municipais que se aliaram ao PPB e ao PFL sem autorização do comando estadual.
Além da autofagia, outro problema detectado pela executiva foi o excesso de personalismo de seus membros. "A eleição mostrou que não há personalidade maior que o PT", afirmou Cunha.
Crescimento do PSB
Para ele, o fortalecimento do PSB também ajudará "a oxigenar o partido". "O PT, em muitos momentos, é prepotente e se comporta como o dono da verdade. Ele precisa entender que que há gente boa em outros partidos."
Na capital, a executiva atribui a derrota de Luiza Erundina à falta de polarização em relação ao prefeito Paulo Maluf e ao governo de Fernando Henrique Cardoso.
"Pecamos por não polarizar desde o começo. Não soubemos avaliar a força que o Maluf ia ter. Além disso, deixamos com ele a bandeira de oposição ao governo federal", declarou Campos.
O excesso de autonomia da campanha, segundo a direção estadual, causou embaraços como o uso da imagem do presidente no programa de TV petista.
No geral, a análise é que o partido foi "totalmente" derrotado no Estado. "Não vamos partilhar de avaliações ufanistas. Fomos mal e isso é um alerta", disse Cunha.

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