São Paulo, terça-feira, 26 de novembro de 1996
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PF prende assassino de Chico Mendes

MÔNICA SANTANNA

MÔNICA SANTANNA; JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

Condenado com seu pai a 19 anos de prisão pela morte de seringueiro, Darci Alves Pereira estava foragido desde 93

A Polícia Federal prendeu ontem em Guaíra (680 km a oeste de Curitiba) Darci Alves Pereira, 28, filho de Darly Alves, condenados a 19 anos de prisão pela morte do líder seringueiro Chico Mendes.
Chico Mendes foi assassinado em 22 de dezembro de 1988. Darly foi condenado por ter sido o mandante do crime e Darci, pela sua execução.
Darci fugiu da penitenciária Francisco de Oliveira Conde, em Rio Branco (AC), em dezembro de 93, onde cumpria a pena junto com seu pai. Os dois estavam morando em Medicilândia, cidade próximo a Altamira, no Pará.
Em junho deste ano, a Polícia Federal recapturou Darly em Medicilândia a partir de informações anônimas. Darci conseguiu escapar ao cerco da PF e fugir.
A prisão de Darci ocorreu às 9h, quando Darci saía da casa de um primo para encontrar a mulher, Delzimar Nascimento Vidal, e a mãe. O coordenador regional da PF, delegado Luiz Melzer, disse que Darci não ofereceu resistência à prisão e não estava armado.
Melzer disse que a Polícia Federal recebeu informações de que Darci estaria no noroeste do Paraná havia 20 dias e passou a seguir sua mulher e parentes.
"Estávamos acompanhando os passos do Darci e, na madrugada de ontem (anteontem), descobrimos ele na casa de um primo e ficamos aguardando sua saída."
Segurança máxima
Segundo Melzer, Darci saiu de Guaíra escoltado por dez agentes da PF. De Curitiba, ele seria levado para Brasília num avião fretado pela Polícia Federal.
Melzer disse que Darci deverá ser transferido para uma prisão de segurança máxima. "Pode ser a Papuda", afirmou, referindo-se à penitenciária do Distrito Federal, a 45 km do Plano Piloto, onde Darly cumpre a sua pena desde junho, quando foi recapturado.
No dia 30 de outubro, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu manter Darly preso em Brasília, rejeitando pedido dos seus advogados, que queriam o seu retorno à penitenciária de Rio Branco.
Médico
Em entrevista em Curitiba (PR), Darci disse que não quer voltar ao Acre porque precisa de um médico para tratar a hepatite.
"Quero ficar num lugar onde possa me tratar", disse Darci, antes de embarcar para Brasília em um avião fretado pela PF.
Darci disse estar muito doente. "Quero cuidar da minha saúde". Ele afirmou que emagreceu dez quilos e que, se não estivesse doente, a PF não o pegaria.
Afirmou ter ficado a maior parte do tempo numa de suas propriedades em Medicilândia, no Pará. De lá, disse que passou por Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Tocantins, Paraguai e, há 15 dias, chegou ao Paraná.
Ele voltou a negar que teria matado o sindicalista Chico Mendes e que não reagiu à prisão porque não é "bandido".
Parentes
Além de Guaíra, Darci tem parentes nos municípios de Umuarama e Vila Alta. Sua mãe, Elpídia Pereira, foi a segunda mulher de Darly Alves e mora em Umuarama com Genilda, irmã de Darci.
Condenado em 14 de dezembro de 1990, ele fugiu -juntamente com o pai- em 1993, quando Darly estava para ser transferido para o Paraná para ser julgado pela morte do corretor Acir Urizzi.
A fuga dos dois da Penitenciária Estadual do Acre nunca foi esclarecida. Desde então, em Medicilândia, usando nomes falsos, eles conseguiram até financiamento bancário para lavoura de cacau.

Colaborou José Maschio, da Agência Folha, em Londrina

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