São Paulo, terça-feira, 26 de novembro de 1996
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Testemunha da chacina chega ao país

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Voltou ontem ao Brasil a principal testemunha da chacina da Candelária, o ex-mendigo Wagner dos Santos, 24.
Vestido com um colete à prova de balas e escoltado por policiais federais, Santos atuará amanhã como testemunha do julgamento do ex-PM Nélson Oliveira dos Santos Cunha, 29, que confessou à polícia ter participado do massacre dos meninos de rua.
A chacina de oito menores ocorreu em 23 de julho de 1993. As crianças e adolescentes dormiam sob uma marquise perto da igreja da Candelária (centro do Rio) quando vários homens armados atiraram contra eles.
Marcado para começar às 13h no 2º Tribunal do Júri, o julgamento de Cunha poderá ter surpresas, segundo a promotoria.
Os promotores Maurício Assayag e José Piñeiro Filho não crêem que Cunha negue a confissão feita em abril deste ano ao delegado Jorge Serra, da Divisão de Defesa da Vida. Eles esperam que Cunha revele nomes de mais envolvidos.
Refugiado na Suíça há dois anos, Santos voltou mesmo após ter afirmado que não participaria de outras etapas do processo. Ele chegou ao Aeroporto Internacional do Rio de manhã, vindo de Zurique.
Na madrugada da chacina, o então mendigo levou vários tiros, um deles na cabeça. Ele apontou como autor deste disparo o PM Carlos Jorge Liaffa Coelho.
Coelho foi preso, mas, como não foi denunciado pela promotoria, acabou solto. Ao não denunciar o acusado, a promotoria deixou claro não ter levado em conta o reconhecimento feito por Santos.
A testemunha deverá ficar no Brasil até 10 de dezembro. No dia 6, ele estará nos julgamentos de mais três acusados: o tenente Marcelo Cortes e os soldados Cláudio Luiz dos Santos e Marcos Aurélio Alcântara, da PM.
Santos ficará protegido na superintendência da PF até voltar à Suíça. A testemunha recebeu à tarde a visita das irmãs Sônia, 25, Patrícia, 21, e Vandinéia, 18. Ele não conhecia Vandinéia e Patrícia, já que se separara da família pequeno.
Com uma bala alojada na coluna, a testemunha apresenta problemas neurológicos no lado esquerdo do rosto e fala com dificuldade.

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