São Paulo, terça-feira, 26 de novembro de 1996
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Trip hop ganha status no pop

CAMILO ROCHA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em questão de três anos, o trip hop se transformou de gênero underground experimental da dance music para linguagem influente da música pop.
Nas últimas três semanas foram lançados vários discos que comprovam esse fenômeno.
Entre eles: "Pre-Millenium Tension", de Tricky; "Setting Sun", colaboração dos Chemical Brothers com o vocalista do Oasis, Noel Gallagher; "Benzina", de Edgard Scandurra; e "Trip Hop Experience", a primeira coletânea do estilo lançada no Brasil.
O que é exatamente trip hop? Difícil definir, já que o termo se tornou vago e é utilizado a torto e a direito.
A pauleira distorcida dos Chemical Brothers, o blues em cinemascope do Portishead, o minimalismo jazzístico do selo londrino Mo'Wax, o dub-soul sombrio do Aloof, todos encontram abrigo no imenso guarda-chuva do trip hop.
Basicamente, tudo em dance que for lento, de sonoridade "suja", de caráter viajante e que contenha influências como hip hop instrumental, dub, jazz, psicodelia e trilhas de cinema corre o risco de ser chamado de trip hop.
O termo foi cunhado pela revista inglesa Mixmag para definir uma série de discos com essas características que saíam em 94, incluindo muitos do selo Mo'Wax.
O uso de batidas de hip hop e a abundância de trechinhos sampleados, acrescentados de uma certa carga psicodélica e sem o foco vocal de um rap, resultavam num efeito chapado-lisérgico. Daí trip hop.
Os primórdios do trip hop podem ser localizados em trabalhos do fim da década de 80 de grupos como Depth Charge, Bomb the Bass, Renegade Soundwave, Beastie Boys e Wild Bunch.
O segundo LP dos Beastie Boys, "Paul's Boutique", é considerado o marco zero oficial das sonoridades que viriam a ser conhecidas como trip hop.
Outro ex-integrante do Wild Bunch, Nellee Hopper, juntou-se ao Soul 2 Soul e depois produziu Björk e Madonna (que também gravou com Massive Attack). Com esses trabalhos, Hopper tornou-se pioneiro na incorporação de elementos trip hop no pop.
Tricky, que fez raps em várias faixas de "Blue Lines", lançou-se em carreira solo em 95 e se tornou a primeira estrela do trip hop. Seu álbum de estréia, "Maxinquaye", estourou por toda a Europa, chegando ao terceiro posto da parada pop britânica.
Neste ano, ele lançou o projeto Nearly God ("quase Deus") -ainda não editado no Brasil- com participações de artistas pop como Neneh Cherry, Björk e Terry Hall, ex-vocalista do Specials. Ele acaba de remixar o último single do Garbage, "Milk".
A dupla de Manchester Chemical Brothers foi uma das que mais conseguiu levar o trip hop para novos públicos. Seu disco "Exit Planet Dust" virou o álbum dance que todo roqueiro pode ter na coleção sem constrangimento.
Fizeram remixes para bandas de rock como Manic Street Preachers, Primal Scream e Charlatans. E agora, em "Setting Sun", trazem ninguém menos que Noel Gallagher, o vocalista da maior banda de rock do momento, Oasis.
Gallagher tem se bandeado para o lado dos beats dançantes, especialmente do trip hop. Entrou no estúdio para produzir remixes para Beck e DJ Shadow, um californiano que é uma das sensações do underground trip hop.
O formato Portishead (cantora cool com ratos de estúdio ao fundo) também se estabeleceu no pop, gerando uma leva de bandas como Morcheeba, Moloko, Sneaker Pimps, Lamb, Archive, Ruby e Baby Fox.

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