São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 1996 |
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'É mais do que comprar a entrada para o passado'
MARCELO REZENDE
"O verão de 1976 foi longo e quente", lembra o baixista Glen Matlock, um homem de 38 anos que conseguiu uma coisa rara na história dos ídolos da cultura popular: uma segunda chance. Ainda adolescente, Matlock se juntou ao baterista Paul Cook, Steve Jones (guitarra) e ao vocalista e demônio da classe média britânica Johnny Rotten, para criar uma fissura na história da música. No meio da trajetória, é descartado por desentendimentos com Rotten, dando seu lugar ao mítico Sid Vicious, morto em 1979. Amarga o esquecimento, lança uma autobiografia, "I Was a Teenage Sex Pistol" (Eu Fui um Sex Pistol Adolescente), e se recupera agora do passado. Com extrema polidez e na véspera de embarcar para o Brasil, Matlock falou à Folha, por telefone, de sua casa em Londres. * Folha - Você se considera hoje uma grande estrela, como as que você combateu no passado? Glen Matlock - Não, de maneira alguma... Algumas pessoas podem achar que sim, mas na verdade eu pouco me importo com isso. Já tive o suficiente. Folha - Depois das "bandas de apenas três acordes", o punk dos Pistols é melhor tocado hoje? Matlock - Quando você é muito jovem, não tem uma visão exata sobre o que pretende e nem o que tem em suas mãos. Não tem consciência do que significa uma boa performance no palco. Hoje, a nossa música soa da exata maneira que deveria soar. Algumas bandas tocam o mesmo material por 20 anos, mas esse não é o nosso caso. Nós estamos tendo a chance de tocar as canções que já não tocávamos há 20 anos. Folha - E além da música há o movimento cultural. Matlock - Nós realmente nunca nos importamos com o punk rock. Sempre acreditamos que isso aconteceu além de nós, pelas nossas costas. Os Sex Pistols foram uma ilustração para o que já estava acontecendo. Folha - Ironicamente, a volta dos Pistols acontece quando o mundo se preparou para o retorno dos Beatles, no ano passado. Matlock - Para nós quatro, em nosso início, estávamos tentando fazer alguma coisa de importante, de diferente, mas permanecemos separados por muito tempo. E agora nós estamos de volta para descobrir o que acontecerá. É bem mais do que uma revisitação, comprar uma entrada para ver artigos do passado. Folha - Há algo para ser explicado para aqueles que nunca souberam o que é ser um punk? Matlock - Bem... A verdade sobre os Sex Pistols é a individualidade, a idéia de expressar o que você pensa sobre o mundo. Hoje, nesses dias de MTV, tudo se tornou muito mais conservador, a rebelião se tornou um pacote pronto para o uso. Muitas pessoas diziam, especialmente na Inglaterra, que seria impossível o nosso retorno. Se você realmente quer fazer algo nessa vida, tem que agir. As pessoas sempre estão fazendo o que não gostam. E assim nunca descobrirão o que realmente querem. E ficam mais velhas a cada momento. Texto Anterior: Festival mistura Pistols, realidade virtual e piercing Próximo Texto: O movimento PUNK no Brasil Índice |
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