São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 1996
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EUA alegam que o punk tem 25 ou 30 anos; e não 20

MARCELO OROZCO
DO "NP"

O punk renderia um processo de paternidade mais ruidoso que os de alguns craques de futebol. Um exame do DNA de três acordes básicos indica que este caderno poderia ser sobre "21 (ou 25, ou até 30) anos de punk".
O tal exame indicaria que o nascimento não foi na Inglaterra em 1976 com o Sex Pistols e seu empresário Malcolm McLaren. Foi nos EUA, sem data nem "pai" bem definidos.
Um defensor ferrenho dessa paternidade americana é o crítico nova-iorquino Legs McNeil.
Legs fundou a revista "Punk" em 1975, captando o estouro do gênero em Nova York.
Meses atrás, ele lançou o livro "Please, Kill Me" ("Por Favor, Mate-me"), botando em ordem a criação do punk nos EUA por meio de entrevistas com quem estava lá nos anos 70.
"Os Sex Pistols eram demais, mas eles e Malcolm McLaren roubaram tudo do punk americano. A música, a atitude, tudo", disse McNeil, em entrevista à Folha por telefone.
Pelas contas de Legs, os genes do punk surgiram no meio dos anos 60 com o barulho do Velvet Underground de Lou Reed e de centenas de bandas de garagem.
"Mas não havia realmente um movimento até os Stooges de Iggy Pop", ressalta McNeil.
Os Stooges apareceram em 1969 com um rock cru e distorcido. A postura de palco do cantor Iggy Pop era um nó em estômagos menos preparados, incluindo autoflagelação e afrontas à platéia. Drogas e sexo aos montes completavam o folclore.
Além dos Stooges, outras bandas americanas entre 1969 e 1974 influenciaram o punk inglês: MC5 e New York Dolls.
O "movimento" foi tomar corpo e assumir o nome de punk em Nova York entre 1974 e 1975.
Com a mesma atitude "que se dane" e som direto, Ramones, Patti Smith, Television e Richard Hell & the Voidoids espantavam do rock o torpor hippie.
"O melhor show que vi na minha vida foi o dos Ramones no CBGB's em 1975: 18 minutos para uma platéia de 20 pessoas", lembra McNeil. "Foi puro choque. Como todo bom rock, eles ofereciam perigo. Eu não sei definir esse perigo. Se soubesse, teria formado uma banda no dia seguinte e feito o mesmo."
McNeil é bem-humorado quanto ao "roubo" da paternidade e até se empolga ao saber da visita dos Pistols ao Brasil.
"Vai ser ótimo para vocês. Prefiro um show dos Pistols, do jeito que estão agora, que um do Green Day", diz Legs.

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