São Paulo, sexta-feira, 29 de novembro de 1996
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Suicídios apavoram as cidades do fumo

BRUNO BLECHER

BRUNO BLECHER; XICO SÁ
ENVIADO ESPECIAL A VENÂNCIO AIRES

Índice de mortes no Sul chega próximo ao recorde mundial; pesquisa associa os casos ao uso de pesticidas

XICO SÁ
Uma onda de suicídios, que pode estar associada ao uso intensivo de um determinado grupo de agrotóxico nas lavouras, assombra as cidades do fumo situadas no Vale do Rio Pardo (RS) e região de Arapiraca (AL).
Em Venâncio Aires (RS), 21 pessoas se mataram em 95, a maioria agricultores. Esse número corresponde ao coeficiente de 37,22 por 100 mil habitantes, próximo à média da Hungria, país que lidera as estatísticas mundiais de suicídio.
No pacato município gaúcho, de 55 mil habitantes, quase todas as vítimas se enforcaram.
Outras cidades da região, como Santa Cruz do Sul, Lajeado e Candelária, registram índices elevados de suicídio. Todas elas produzem fumo.
Em Arapiraca, pólo do fumo em Alagoas, 28 pessoas se suicidaram este ano, segundo investigação realizada pela Folha nos hospitais da região.
A maioria ingeriu o próprio veneno, um inseticida do grupo dos organofosforados. Lá, o número de suicidas equivale a 16 por 100 mil habitantes, o mesmo do Japão e quase cinco vezes superior ao do Estado.
Vários estudos médicos relacionam a intoxicação por organofosforados com a depressão e outros distúrbios mentais.
A Bayer S.A., que produz o Tamaron, um dos agrotóxicos usados nas lavouras de Arapiraca, decidiu retirar o produto do mercado alagoano há 15 dias, embora descarte oficialmente que o inseticida induza a pessoa intoxicada ao suicídio.
O produto, que até 85 levava tarja vermelha (extremamente tóxico), teve sua classificação toxicológica atenuada, em 92, por uma portaria do Ministério da Saúde, passando à faixa amarela (altamente tóxico).

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