São Paulo, sexta-feira, 29 de novembro de 1996
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Agricultor esconde agrotóxico na terra

XICO SÁ
DO ENVIADO ESPECIAL A ALAGOAS

"Quando eu vi, a bichinha estava se batendo no chão, meio arroxeada, botando uma baba pela boca, aqui, debaixo desse coqueiro. Aí eu vi logo o tubo veneno encostado nela e sai desesperado".
É assim que o agricultor Antonio José dos Santos, 52, narra o drama que passou ao avistar a sua filha Rosileide de Souza Santos, 21, que se suicidou, ao ingerir Tamaron em 1º de setembro deste ano.
Santos mora na localidade de Piauí, na zona rural do município de Arapiraca, e usa agrotóxico para proteger lavouras de feijão, algodão, milho e fumo. O roçado fica no quintal da sua casa.
No dia em que morreu, Rosileide já não trabalhava mais diretamente na lavoura, pois havia conseguido um emprego como auxiliar em um escritório, na cidade.
Nos últimos três anos, no entanto, conviveu com a presença e o mau cheiro do agrotóxico, guardado sem maiores cuidados dentro da casa da família.
"Ela não tinha motivo nenhum para se matar, era uma moça estudiosa e alegre", conta a mãe de Rosileide, Cícera Serafim de Souza, 52, enquanto mostra uma foto da filha em uma festa com os amigos.
Depois da tragédia da filha, Santos seguiu um conselho que ouviu de amigos que haviam passado por dramas semelhantes: passou a esconder os agrotóxicos em buracos cavados na terra, longe de casa.
'Aqui somente eu sei onde está o veneno e livro minha família de uma coisa ruim", diz. 'Esse bicho (agrotóxico) parece que chama as pessoas para ele".
Para tentar salvar a filha, no momento em que a avistou na agonia da morte, Santos ainda teve que cumprir um sacrifício típico de quem habita os grotões do país.
Ele pegou a sua bicicleta e correu, no desespero, cerca de 10 km, até encontrar um carro para levá-la ao hospital público de Arapiraca. Quando chegou à cidade, Rosileide estava morta.
(XS)

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