São Paulo, sexta-feira, 29 de novembro de 1996
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Barbara Hendricks traz equilíbrio à dramaticidade das árias de Mozart

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma voz é competente por múltiplas razões. É o que inegavelmente ocorre com a soprano norte-americana Barbara Hendricks, 48, que fez ontem sua segunda e última récita em São Paulo.
Convidada do Mozarteum Brasileiro, ela canta amanhã no Rio e no dia 4 em Ribeirão Preto, com o mesmo programa composto por sete árias de Mozart (1756-1791).
Hendricks é antes de mais nada uma voz que amadureceu com uma ênfase mais aveludada nas notas de registro mais grave. Transforma em vantagem o que em princípio dificultaria a interpretação de certas peças do repertório mozartiano. Vejamos.
Há também em Hendricks uma concepção extremamente refinada sobre o que seja a carga emotiva da interpretação mozartiana.
A melodia é sempre eloquente, a orquestração lacônica e o libreto (quando escrito por Lorenzo Da Ponte) traz os condimentos necessários para equilibrar a narrativa.
A soprano deve, então, dar à dicção de uma ária a mesma força interpretativa de um recitativo. Não precisa empetecar seu papel com redundâncias semânticas. Seria o caso da respiração aflita misturada à voz, da acentuação choramingada de certas sílabas.
Hendricks nunca incorreu nesses pecados em seu currículo. Consegue, assim, compensar amplamente o timbre menos belo que o de outras sopranos que também transitam com desenvoltura pelas árias de Mozart, como a inglesa Emma Kirkby, 47, ou a alemã Gundula Janowitz, 59.
São atributos que percorrem sem oscilações um programa composto por peças das óperas "Idomeneo", "Cosi Fan Tutte", "As Bodas" e "Don Giovanni".
O acompanhamento da soprano não poderia ter sido mais apropriado. A Orquestra de Câmara de Praga, fundada em 1951, possui uma forte cultura mozartiana, alimentada por um repertório centrado de início só no século 18.
Outra característica da orquestra é a de se conceber como conjunto de câmara que dispensa um maestro ou um diretor musical permanente. Christian Benda, que a dirige em sua turnê pelo Brasil, tem então uma função mais discreta.
Administra a dinâmica (intensidade maior ou menor no fraseado ou nos acordes), impõe com discrição sua cadência e fornece, com isso, condições para que o brilho venha do principal intérprete no palco. A própria Hendricks.

Recital: Barbara Hendricks e a Orquestra de Câmara de Praga, dir. Christian Benda
Onde: Teatro Municipal, do Rio, e Theatro D. Pedro 2º, de Ribeirão Preto
Quando: amanhã e dia 4
Quanto: informações nas bilheterias

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