São Paulo, sexta-feira, 29 de novembro de 1996
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Borgonha tenta dar a volta por cima

JORGE CARRARA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Renomado berço de alguns dos melhores Pinot Noir e Chardonnay do mundo, a Borgonha (região do leste da França) tem se tornado igualmente famosa por ser fonte de grande quantidade de vinhos pelos quais se paga uma fortuna e que, uma vez no copo, não valem quase nada.
Segundo a última edição da revista norte-americana "Wine Spectator", os motivos da queda de qualidade na região combinam a luta pela sobrevivência com a ambição de produtores e comerciantes que chegaram a cometer algumas fraudes.
A saga começou após a Segunda Guerra Mundial, quando os viticultores iniciaram a recuperação dos seus vinhedos -abandonados durante o conflito. Na época, fertilizar com produtos químicos era a ordem do dia.
Com o seu uso indiscriminado, a produção dos vinhedos aumentou em cerca de 70% -quanto maior a produtividade, porém, mais leves e diluídos os vinhos.
Com a sua renda colocada em risco tanto pelo solo, que tornara os outrora densos e longevos vinhos da região em frágeis exemplares, como pelo clima, que nem sempre colabora como deveria na região com a maturação das uvas, alguns produtores manipularam os vinhos, quebrando a lei.
Alguns foram pegos. Em outubro de 87, as autoridades francesas comprovaram nas caves da Bouchard Pére & Fils a compra clandestina de mais de quatro toneladas de açúcar utilizadas para elevar o conteúdo alcoólico dos vinhos.
Ácido tartárico também havia sido adicionado a algumas cubas para elevar a acidez. Em 1994, 52 viticultores foram parar no banco dos réus por acidificar os vinhos.
A falta de escrúpulos de alguns comerciantes também tem abalado a reputação dos vinhos do lugar. Em 1970, por exemplo, a polícia inglesa descobriu que o conteúdo de 500 caixas de supostos "premier crus" (como o Mersault les Genevrières), embarcados pela firma francesa Remoissenet, continha nas garrafas apenas Borgonhas genéricos, de preços e qualidade muito inferiores.
Mas a volta por cima da região pode estar perto. Vários produtores (alguns representados no Brasil -leia abaixo) estão tratando de maneira natural os seus terrenos e limitando a produção dos vinhedos para modelar vinhos mais complexos e concentrados.
Está no exemplo deles talvez o caminho da recuperação da Borgonha. Caso contrário, quem quiser ter certeza de comprar um bom Pinot Noir (ou Chardonnay) terá que optar por um da Califórnia ou Oregon.
Alguns bons produtores da Borgonha: Dujac, Leroy (Maison du Vin, tel. 011/284-7288), Faiveley, J.J. Confuron, Comte de Vogüé (Mistral Importadora, tel. 011/283-0006).

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