São Paulo, segunda-feira, 2 de dezembro de 1996
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"Postura indicava lesão no cérebro", diz Pagura

RICARDO FELTRIN
DA REPORTAGEM LOCAL

Desde o dia 8 de outubro, quando Cláudia Liz chegou ao Albert Einstein, o neurocirurgião Jorge Roberto Pagura tem se recusado a falar sobre o caso com a imprensa.
No último sábado, Pagura concordou em falar com a Folha, na sede do Clube Paineiras, Morumbi (zona sul da cidade). Ele é o atual presidente do clube.
Segundo Pagura, as estatísticas da neurologia mundial apontam que um paciente nas mesmas condições de Liz teria entre 8% e 10% de chances de voltar do coma sem nenhuma sequela.
Também afirma que 24 horas depois da internada, Liz apresentou um estado tão grave que ele chegou a pensar que ela morreria. A seguir, trechos da entrevista.
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Folha - Como, exatamente, era o estado de Cláudia Liz quando ela chegou ao Einstein?
Jorge Roberto Pagura - Ela chegou em decorticação -postura que, neurologicamente, indica um acidente com o córtex cerebral. Ela tinha espasmos, suas mãos estavam sobre seus ombros, como se estivesse se abraçando. É uma postura patológica que indica lesão na parte alta do cérebro, mas não no sistema nervoso -o que seria muito mais grave.
Folha - O que foi feito?
Pagura - Ela já estava sedada. Fizemos exames. Verificamos que Cláudia não tinha lesões estruturais, o que era ótimo.
Folha - E a partir daí?
Pagura - O que ninguém sabe é que na quarta-feira pela manhã ela apresentou problemas mais sérios, apesar de estar sendo acompanhada, medicada e entubada. À noite, sua postura corporal mudou completamente: da decorticação ela passou a apresentar um quadro de descerebração. A posição de "auto-abraço" mudou para outra, de estiramento muscular. Assim como no caso anterior, isso indica um problema cerebral -só que muito mais grave. É como se seu cérebro estivesse perdendo contato com o sistema nervoso.
Folha - O que o senhor sentiu nesse momento?
Pagura - Foi terrível e muito triste. Foi o momento em que baixou o astral na família e mesmo em nós. Ela estava morrendo. Tiramos ela do quarto e levamos para outros exames que poderiam apontar o possível compromentimento do seu sistema nervoso. Nesse caso, ela estaria em processo de morte cerebral e tudo estaria perdido.
Folha - O que então os exames revelaram?
Pagura - Nada, graças a Deus. Quando vi pelo exame que não havia comprometimento, falei para a nossa equipe: estamos no jogo!
Folha - Quando ela começou a melhorar?
Pagura - Na sexta. Na quinta, um exame que detectou ácido lático na região occiptal do cérebro (acima da nuca). Significava lesão. O que essa região controla? A visão. A família sabia que havia a possibilidade de ela ficar cega.
Folha - Ela teve sorte?
Pagura - Só digo que no seu estado, apenas de 8% a 10% dos pacientes voltam sem sequelas.
(RF)

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