São Paulo, terça-feira, 3 de dezembro de 1996 |
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'Gangsta' de Snoop Doggy Dogg vive
CAMILO ROCHA
Em 96, esse universo mostrou uma faceta horrenda. Durante anos, centenas de discos fiéis à filosofia "gangsta" ficaram falando de revólveres, gangues, violência e "vagabundas", vomitando pavonice machista. A bravata corrente era a afirmação de superioridade de rappers da Costa Oeste (Ice Cube, Dr. Dre, Snoop, Tupac Shakur) sobre os da Costa Leste (Wu-Tang Clan, Notorious BIG) e vice-versa. Mas em setembro, Tupac, 25, tombou morto com vários tiros em Las Vegas. As suspeitas caíram sobre gente da Costa Leste. A distinção entre ficção e realidade, entre letra de música e manchete de jornal deixou de existir. A brincadeira perdeu a graça. Snoop dedica seu disco a Tupac, lamenta a morte do amigo. Mas se engana quem acha que Snoop aproveitou o momento para adotar um discurso mais positivo. A capa de "Tha Doggfather" já entrega que nada mudou. Triste, já que, por seu status de astro, Snoop podia influenciar atitudes. O título é um trocadilho com "The Godfather", nome em inglês do filme "O Poderoso Chefão". O encarte traz uma caricatura com um Snoop de focinho, sentado num trono, tendo sua taça de champanhe servida por uma "cadela" peituda. As letras? Revólveres, gangues, violência, "vagabundas" e pavonice machista. A lamentável introdução de "Groupie" traz um diálogo em que uma mulher se oferece para alguém da turma de Snoop. Uma voz masculina entra em seguida: "Tá vendo essa vagabunda? Vou meter a mão na cara dela!". Facilita não entender inglês para ouvir, pois, se as letras são constrangedoras, a música é boa. Nada revolucionário, mas balanços sólidos e sons perversos. A produção do DJ Pooh é primorosa. Os samples e referências deixam de lado as manjadas fontes dos anos 70. Snoop avançou uma década. Sampleia Run DMC em "(DJ) Wake Up", faz cover de "Vapors", de Biz Markie, e usa sons associados à fase electro do rap (início dos anos 80). Disco: Tha Doggfather Artista: Snoop Doggy Dogg Lançamento: Death Row (importado) Quanto: R$ 23 Onde encontrar: London Calling (tel. 011/223-5300) Texto Anterior: Obra terá contos eróticos Próximo Texto: A Tribe Called Quest se volta ao hip hop mais ortodoxo Índice |
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