São Paulo, quarta-feira, 4 de dezembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Morre o historiador Georges Duby, 77

DA REPORTAGEM LOCAL E DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Georges Duby morreu ontem em sua casa de Aix-en-Provence, no sul da França, aos 77 anos. O historiador francês tinha câncer.
Duby era especialista em Idade Média, um dos mais respeitados do período entre os séculos 11 e 13.
Foi um grande popularizador do tema que estudava. Participou da produção de séries televisivas sobre a Idade Média, assessorou cineastas e escreveu livros de divulgação sobre o tema.
Com Philippe Ariès dirigiu a coleção "A História da Vida Privada" (publicada no Brasil pela Companhia das Letras). Alguns dos seus livros se tornaram best sellers, como "Guilherme Marechal, o Melhor Cavaleiro do Mundo" (Edições Graal).
Duby era considerado um pesquisador da escola da nova história, discípulo de Lucien Febvre e de Fernand Braudel, historiadores da escola dos "Annales" (uma revista acadêmica).
Febvre, que fundou a revista, e Braudel, que a dirigiu nos anos 50 e 60, renovaram a pesquisa ao deixarem de privilegiar a história política, militar e diplomática. Tentavam reconstruir o passado a partir do estudo de elementos tão variados como a demografia, o clima, as comunicações e o transporte.
Os "novos historiadores", como Duby, procuravam -em resumo- retratar uma época por meio das imagens que os homens faziam de sua vida e de suas crenças. Procuravam fazer uma reconstrução da vida cotidiana, também chamada de história das mentalidades, definição para a qual Duby torcia um pouco a cara.
Seus estudos mais profundos, "A Economia Rural e a Vida no Campo no Ocidente Medieval" e "Guerreiros e Camponeses", tratam do período de feudalização, depois do fim do império Carolíngio, ao ressurgimento da vida nas cidades, momentos compreendidos entre os séculos 10 e 13.
Mas Duby escreveu também sobre o casamento e o papel da mulher nesse período, sobre as três ordens que constituíam a sociedade (guerreiros, sacerdotes e camponeses) e sobre a arte medieval.
Numa entrevista à Folha no começo deste ano, que não pôde ser completada devido ao estado de saúde de Duby, o historiador disse que uma de suas maiores preocupações atuais era o aumento da exclusão social nos países ricos e a miséria nos países pobres, "o problema do novo milênio, o novo 'grande medo' da Europa".
Duby dizia que seus planos se resumiam a trabalhar menos. Pintor amador, gostaria de "vagabundear" mais no Beaubourg (museu e centro cultural a alguns passos de sua casa em Paris).

Texto Anterior: Bomba mata 2 e fere 83 em Paris
Próximo Texto: Explosão em mina na China faz 91 mortos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.