São Paulo, quarta-feira, 4 de dezembro de 1996
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FUTEBOL ESDRÚXULO

Em qualquer país do mundo, torneios esportivos têm como primeira finalidade escolher os melhores. Menos no caso do futebol brasileiro.
A cada ano, regulamentos esdrúxulos conseguem proezas como a verificada no Campeonato Brasileiro em andamento: os quatro clubes de melhor campanha ao longo do torneio são eliminados da fase final, exatamente a que de fato conta.
Criou-se, na prática, a seguinte situação: os participantes passaram meses a fio lutando para obter a melhor posição. Os quatro times mais bem-sucedidos viram ruir esse trabalho em apenas dois jogos e por somente um gol (no caso de Guarani, Palmeiras e Atlético Paranaense) ou dois (no caso do Cruzeiro).
É bom lembrar que os menos responsáveis por essa situação são os quatro times que acabaram se classificando para as semifinais. Jogaram dentro do regulamento e passaram merecidamente para a fase seguinte.
O futebol brasileiro é o único no mundo em que não vale a lógica universal que separa os torneios em copas e campeonatos. Copas, em geral de curta duração, prevêem o sistema do confronto direto de duas equipes e a eliminação da que perder. Campeonatos, de longa duração, são o clássico método de turno e returno. Vence quem fizer mais pontos, ou seja, o dono do melhor desempenho ao longo de toda a competição.
No Brasil, não. O campeonato é campeonato somente na primeira fase, que na verdade vale pouco, porque se transforma em copa na fase final. Cabe indagar se essa não é uma das razões pelas quais os estádios europeus, continente em que prevalece o sistema de campeonato, estão geralmente lotados, enquanto no Brasil até grandes clássicos são disputados para poucos torcedores.
O futebol brasileiro ainda está distante de um profissionalismo condizente com suas conquistas internacionais. Um futuro digno passa necessariamente por regulamentos mais justos, um calendário equilibrado e a essencial profissionalização dos clubes, hoje à mercê de amadoras administrações.

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