São Paulo, quarta-feira, 4 de dezembro de 1996
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Privatizar os políticos

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Aproveitando a onda toda em torno da privatização, bem que caberia discutir a privatização dos homens públicos. Muitos deles emitem constantes sinais de que confundem o público e o privado de uma maneira que seria apenas grotesca, não fosse também escandalosa.
Tome-se o caso de Celso Pitta (PPB), prefeito eleito de São Paulo. Diz ele: "Não vou discutir com a imprensa gastos pessoais".
Teria a mais absoluta razão se não tivessem surgido incompatibilidades entre o que ele diz que ganha e o que se comprova que gasta. A partir daí, qualquer homem público tem, sim, que discutir com a imprensa os gastos pessoais.
Não porque os jornalistas queiram, mas porque o público tem o direito de saber (e só pode fazê-lo por meio da mídia) se um de seus servidores está escondendo algo ou recebendo por fora de alguma fonte que lhe cause constrangimento revelar.
Tome-se também o caso do deputado Wigberto Tartuce (PPB-DF), que gastará, em seus quatro anos de mandato, R$ 240 mil dos cofres públicos para pagar seis seguranças, um motorista e duas secretárias que trabalham para o cidadão Tartuce e não para o nobre deputado.
Neste caso, o escândalo é maior porque a presidência da Câmara avalizou os gastos pessoais do parlamentar. "Os cargos são de livre provimento", alega o assessor de imprensa da presidência, Ronaldo Paixão.
É um claro habeas corpus preventivo que permite a cada deputado gastar dinheiro público com suas comodidades pessoais, como se o salário de parlamentar fosse uma mixaria, o que não é exatamente o caso.
Alega o deputado pilhado em flagrante que o presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), lhe disse não haver impedimento legal para a maracutaia. Será que nem Luís Eduardo nem Tartuce (nem Pitta, aliás) ouviram falar em impedimento moral, ético etc?

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