São Paulo, quinta-feira, 5 de dezembro de 1996
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O caso Abílio Diniz

ANDRÉ DE PAULA

Como todos sabem, Abílio Diniz, controlador do Grupo Pão de Açúcar, acaba de ser condenado pela Justiça. A pena estabelecida é prisão por 1 ano e 4 meses, ou uma multa equivalente a cem salários mínimos. Pena muito suave, convenhamos, para o porte do ilícito -transação escusa entre empresas do grupo citado. Aliás, é sempre assim, quando se trata de justiçar os poderosos.
Enquanto isso, seus sequestradores, que em nada o lesionaram fisicamente (atenuante) e que fizeram essa ação para o envio de dinheiro à Frente Farabundo Martí, que, na época, lutava para libertar El Salvador de um sangrento regime, já estão há sete anos na cadeia.
Além disso, foram barbaramente torturados e ficaram incomunicáveis por 15 meses. Pegaram, na verdade, uma pena que não é aplicável nem sequer para crime comum (sequestro com ou sem morte). A Interpol e o próprio ministro do Supremo Tribunal Federal Sepúlveda Pertence reconhecem, também, a natureza política da ação.
Receberá o sr. Diniz as torturas atrozes que foram aplicadas a seus dez sequestradores para que vestissem a camisa de Lula e, consequentemente, induzissem o eleitorado a votar no Collor? Ficará o sr. Diniz incomunicável durante 15 meses, como ilegalmente ficaram os infelizes membros do MIR (Movimento de Esquerda Revolucionária) chileno?
Nada disso, certamente, acontecerá, e fazemos votos para que realmente não aconteça, pois são violações injustificáveis dos direitos humanos.
Está na hora, contudo, de dar um basta a essa situação. Os miristas já sofreram mais do que o suficiente, convenhamos.
Fernando Henrique Cardoso tem a prerrogativa de libertá-los, em forma de expulsão dos estrangeiros e indulto ao brasileiro (são cinco chilenos, dois canadenses, dois argentinos e um brasileiro).
Precisa ser denunciado por insistir em mantê-los na prisão. Ou será que não merecem crédito os justos apelos dos governos do Chile e Canadá, das comissões de direitos humanos dos Parlamentos de México, Costa Rica, Venezuela, Chile, Parlatino e do próprio Brasil, do cardeal de São Paulo, do presidente da Conferência Episcopal Chilena, do grupo Tortura Nunca Mais e de muitas outras entidades do movimento popular e sindical?
Esses companheiros, bem como Luciano Pessina e vários sem-terra presos, condenados ou com prisão preventiva decretada, são os presos políticos do Brasil. Lamentavelmente, essa realidade não é coisa do passado. São os tempos da ditadura do capital.

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