São Paulo, quinta-feira, 5 de dezembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Eleição de escritora traz de volta o consenso à ABL

RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

Diferentemente do ano passado, quando os imortais da Academia Brasileira de Letras (ABL) pela primeira vez se dividiram em torno de duas candidaturas, a eleição de Nélida Piñon traz de volta à casa a tradição do consenso.
Secretária-geral da chapa de Antonio Houaiss, eleito em dezembro de 95, Nélida teve que assumir o posto de presidente em agosto passado, quando o filólogo levou um tombo e quebrou a perna, passando por delicada cirurgia.
Desde então, os acadêmicos perceberam que Nélida tinha talento para comandar. "Ela é uma craque nas finanças. Tem uma força, uma capacidade de organização. Eu fiquei bestificado", disse o escritor Antonio Callado.
Há meses correram rumores de que o senador José Sarney e o escritor Josué Montello gostariam de se candidatar. Sarney recebeu Nélida em Brasília e logo formalizou o apoio à candidatura da colega.
Montello, ex-presidente da ABL que poderia ser uma pedra no caminho de Nélida, também apoiou a escritora. "Ela tem todos os direitos (de assumir a presidência)", afirmou Montello.
Tido como um dos representantes da ala conservadora, Montello disse sorrindo ser importante uma mulher presidir a casa no ano em que se comemora o centenário de fundação da academia.
"É preciso não perder de vista que nessa hora mulher está na moda. Então vamos acompanhar a moda", brinca Montello. Para Nélida, o consenso em torno de seu nome mostra que o país avançou.
Ela lembra que, em todo o mundo, nunca uma mulher presidiu uma academia de letras. "Nesse sentido o Brasil tem sido pioneiro. Nossos homens estão muito progressistas."
O consenso em torno da candidatura de Nélida trouxe a paz de volta à academia. No ano passado, os imortais racharam em torno das candidaturas de Houaiss e do poeta Ledo Ivo.
Pela ligação de Houaiss com o Partido Socialista Brasileiro e o suposto lado conservador de Ivo, a eleição ficou caracterizada como uma disputa entre a ala mais à esquerda e a mais à direita da ABL.
Houaiss acabou assumindo a presidência. Mas quase não conseguiu governar. Primeiro, foi internado com problemas gástricos. Depois, sofreu um sério acidente.
Até hoje, ele sofre as consequências da delicada cirurgia. Na última segunda-feira, Houaiss voltou a ser internado no hospital Silvestre e deverá estar ausente da eleição de sua sucessora.
(RL)

Texto Anterior: 'Estou honrada, mas absolutamente serena'
Próximo Texto: O que importa é jogar grande
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.