São Paulo, quinta-feira, 5 de dezembro de 1996 |
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SEM MEDO DE FICAR O governo federal fez um desanimador anúncio preliminar dos resultados do Programa de Desligamento Voluntário: na fase em que mais benefícios foram oferecidos aos voluntários, apenas 6.000 funcionários aderiram, ou 1,83% dos 320 mil servidores elegíveis. As metas oficiais -de 5% a 10% de adesões- parecem cada vez menos factíveis. Ainda que o resultado seja preliminar, o PDV entra agora numa fase de estímulos declinantes à adesão. Pode-se portanto começar a refletir sobre a iniciativa. Em princípio, programas desse tipo são bastante saudáveis e têm sido adotados por inúmeras empresas, públicas e privadas, assim como por governos estaduais. A idéia é meritória: em vez de gerar um clima de instabilidade e angústia entre os trabalhadores numa empresa que precisa enxugar a folha de pagamentos, a demissão voluntária tenta fazer do corte de postos de trabalho um processo positivo. O custo financeiro maior que o da demissão "involuntária" é de certa forma compensado por um ambiente menos estressado. Mas, se o princípio é legítimo, a realidade do governo federal e de muitas empresas públicas exige medidas de alcance maior. Deve-se dar maior atenção à demissão involuntária, às reformas administrativa e previdenciária e à aceleração da privatização, assim como ao fechamento de órgãos e agências inúteis. Todas essas alternativas têm, é evidente, custos políticos. Mas é ingênuo esperar muito de iniciativas como o PDV. Principalmente levando em conta, como revela o próprio governo federal, que as despesas com inativos e pensionistas devem consumir 40,2% das despesas com pessoal da União neste ano, contra uma média no início da década de 30,4%. Ao lançar o PDV, o ministro Bresser Pereira alertava que a opção de demitir "involuntariamente" existia e seria usada. Chegou a hora de saber se era apenas uma ameaça velada para estimular a adesão ao programa. Os servidores mostraram que não têm medo de ficar. O governo deve mostrar que não tem medo de cortar. Texto Anterior: MICRORREVOLUÇÃO Próximo Texto: NOVAMENTE, AS CHUVAS Índice |
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