São Paulo, quinta-feira, 5 de dezembro de 1996 |
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A Idade Média, outra vez
CARLOS HEITOR CONY Rio de Janeiro - Quando lançaram o Plano Cruzado, com os mesmos luminares que aprenderiam algumas lições, mas nem todas e continuam por aí, foi dito que o Brasil, afinal, conseguira abolir a lei da oferta e da procura. O mundo não mais seria o mesmo.O Plano Real, testado laboratorialmente em quatro outros planos fracassados, deu certo para o gasto, pelo menos até agora, mas ninguém sabe quando virá a fatura nem em que valor. Perifericamente ao Plano Real, foi implantada no país uma surpreendente novidade, tão ou mais estranha do que a do Plano Cruzado. Não aboliram a lei da oferta e da procura, mas aboliram a lei que regula as relações do capital e do trabalho. Na realidade, aboliram o trabalho como categoria filosófica -jogando pesado na confiança de que a tecnologia em breve acabará com o problema por meio da robotização. Em teoria, talvez seja possível abolir o trabalho. E, com ele, o trabalhador. Mas e o homem que encarna o trabalhador? O que fazer com ele? Destruí-lo em câmara de gás -processo modernizante usado pelos tecnocratas da Alemanha nazista? O problema, evidentemente, não é do governo, que não pode perder tempo nem dinheiro com essa massa de fracassados que não tem a oferecer ao mercado nada além de sua força braçal. Cabe ao governo pensar em outras coisas mais dignas e importantes, uma vez que a modernização cria outros desafios, como a unificação da moeda mundial, o mercado único, enfim, o governo único para todos os povos de uma terra modernizadamente homogênea e rica. O diabo nisso tudo é que essa tentativa de modernização foi tentada com sucesso no passado e durou, segundo alguns autores, do Natal do ano 800 (coroação de Carlos Magno pelo papa) até a tomada da Bastilha, início da Revolução Francesa, no século 18. Teve vários períodos, uns bons, outros nem tanto. Chamou-se Idade Média. Texto Anterior: Um sedutor em ação Próximo Texto: Astúcia da aranha Índice |
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