São Paulo, sábado, 7 de dezembro de 1996
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Beatrice Wood ganha mostra aos 104 anos

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

A recuperação do legado dadaísta prossegue no ano que vem, em 3 de março, quando Beatrice Wood deve inaugurar pessoalmente uma mostra retrospectiva de sua carreira. No mesmo dia, a artista completará 104 anos.
A mostra está sendo organizada por Francis Naumann para o American Craft Museum, em NY. Naumann também é o curador da mostra "Dadá" em NY.
A mostra vai recuperar a importância de uma artista que não se limitou a ter casos de amor com Duchamp e Henri-Pierre Roché.
"Seu trabalho é extremamente importante para entender o dadá. Ela participou da exposição independente 'Dadá' em Nova York, em 1917, e o trabalho que ela apresentou -"Un Peu d'Eau dans du Savon"- teve mais atenção que qualquer outro exibido na mostra, porque mostrava uma mulher nua emergindo de sua banheira com uma barra de sabonete presa na virilha. Foi um trabalho muito importante e também muito bom", disse Naumann à Folha.
"Seus desenhos possuem mais sensibilidade dadá que os trabalhos de outros artistas do movimento no período. Sua atitude era dotada de um espírito tão livre que é impossível imaginá-los ligados a outro movimento artístico."
Além da importância evidente de ser a única participante viva e ativa do mais importante movimento artístico deste século, Wood ganha importância por ter documentado o dia-a-dia dos dadaístas em NY em escritos e fotografias.
"Ela documentou as atividades de todo o círculo melhor do que qualquer outro participante. Ela conservou os diários e hoje eles são públicos. Ela também fotografou tudo", disse.
Sobre o amor por Duchamp, Naumann esclareceu: "Um dia eu perguntei a ela como era estar na cama com Duchamp e ela disse aquilo por que acho que todo homem gostaria de ser lembrado: 'Ele era tão gentil na cama como era fora dela'. Foi a coisa mais bonita que eu ouvi alguém dizer sobre qualquer pessoa".
Wood nasceu em 1893, em San Francisco, e se mudou para NY em 1900, com toda a sua família. Hoje vive em Ojai, na Califórnia, na companhia de amigos, como Ram Pravesh Singh, que a conheceu em 1961, na Índia, durante mostra de cerâmicas da artista.
Singh vai visitá-la todos os fins-de-semana e confirma a lucidez e a juventude da artista. "Ela não ouve mais muito bem e não fala ao telefone, mas ainda hoje, todas as tardes, trabalha em seu ateliê de cerâmicas. Ela parece mais jovem que há 35 anos, quando a conheci", disse à Folha.

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