São Paulo, sábado, 7 de dezembro de 1996
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Pop dá primeiros sinais de colapso

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

A indústria da música popular nos EUA vai ter neste ano seu pior resultado desde 1979.
Conhecidos pela sua imunidade a guerras, recessões econômicas e crises em geral (nos períodos difíceis existe até a tendência de aumentar o consumo de música), produtores e vendedores de discos estão adotando as medidas tradicionais diante da queda do faturamento e do lucro: demissões, cortes de despesas e concordatas.
Acostumado com crescimentos anuais de 12% a 20%, em 1996 o mercado de US$ 12 bilhões de discos vai permanecer estagnado ou talvez registre um aumento de vendas de unidades de 2% em relação a 1995, em grande parte devido a uma grande baixa no preço final para o consumidor (o custo médio de um CD baixou de US$ 15 para US$ 11 este ano nas lojas).
O movimento de shows aos vivo (um negócio de US$ 2 bilhões anuais) caiu mais do que nunca nesta década; a audiência da MTV e outras emissoras de TV por cabo especializadas em música está em baixa; não surgiram grandes ídolos da música em 1996 e muitos dos sucessos dos anos anteriores estão naufragando.
Não há consenso sobre a causa e, como sempre, pode haver mais do que uma.
A indústria parece ter se acostumado com a certeza do crescimento fácil e se descuidou. Investiu pesado em novas tecnologias (como a fita digital e o CD de duas músicas) que fracassaram e se despreocupou um pouco das questões artísticas.
Boa parte do boom observado nos últimos dez anos se deveu ao fato de que os consumidores dos 30 aos 50 anos estavam refazendo parte de sua coleção de vinil em CD e este movimento parece ter-se encerrado em 1995.
Outro motivo para o extraordinário aumento de vendas observado entre 1984 e 1994 foi o sucesso do rock alternativo (grupos como Nirvana) que parece estar se esvaindo.
O rock de um modo geral está em baixa. Quem tem segurado a indústria são a "música urbana" (hip-hop e rhythm'n'blues) e os superastros (tipo Michael Jackson ou os Beatles).
O público da faixa etária dos 17 aos 24 anos, segundo vários analistas sociais, está numa atitude de vida muito complacente e pouco disposta a investir em novidades.
O resultado é o seguinte no setor de vendas: três grandes cadeias de lojas de discos em concordata (Camelot, Peaches e Warehouse); uma outra, a maior do país, Musicland com grandes prejuízos e à beira da concordata; a Blockbuster se desfazendo de boa parte de sua divisão musical; a margem de lucro média se reduzindo de 41% para 36% por disco vendido.
Entre os produtores: a PolyGram despedindo 400 funcionários; a Warner Brothers acabando com a metade de sua divisão de música negra; a Atlantic mandando embora 60 empregados.
Novas marcas
Mas ainda há boas notícias e gente disposta a investir no mercado. Rudolph Murdoch acaba de nomear o filho, James, 23, recém-saído da Harvard Business School, para o cargo de vice-presidente para música do conglomerado News Corporation, que é fraco no setor.
A News tem os selos Mushroom e Festival. James Murdoch, que já foi dono de um selo alternativo especializado em hip-hop, tem planos de lançar novas marcas.
No final de um ano tão difícil, a iniciativa de Murdoch está sendo saudada como uma bênção pelos especialistas do setor.

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