São Paulo, sábado, 7 de dezembro de 1996
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SOCIALIZAÇÃO DE PREJUÍZOS

É preocupante, para dizer o mínimo, a notícia de que o governo estuda colocar até R$ 6 bilhões no banco Bamerindus. A responsabilidade do Banco Central de evitar crises de confiança não significa que o poder público deva cobrir as dificuldades de toda e qualquer instituição financeira. E parece hoje bastante duvidoso que o Bamerindus possa causar dano maior à credibilidade do sistema.
Ademais, mesmo que se apresente esse eventual adiantamento apenas como um empréstimo, não está claro em que medida tais recursos seriam recuperados, se um dia o forem. No caso dos bancos Econômico e Nacional, o socorro por meio do Proer está sendo ao menos acompanhado de um inquérito e da indisponibilidade de bens dos controladores e diretores daquelas instituições. As informações disponíveis até o momento sobre a eventual capitalização do Bamerindus não incluem sequer medidas moralizadoras desse tipo.
Não é demais lembrar a grande e justificada indignação pública ocorrida quando o governo tentou simplesmente estatizar o banco Econômico -e seu rombo patrimonial- em agosto do ano passado. O uso do Erário no socorro a instituições financeiras é uma medida extremamente delicada que deve ser reduzida ao mínimo imprescindível.
Deve-se reconhecer, sem dúvida, as dificuldades para precisar o limite entre um socorro responsável e o empenho desnecessário de preciosos recursos públicos no auxílio a uma empresa privada. E é verdade também que esse tipo de questão está sujeita a alguma dose de subjetivismo. Mas nada disso justificaria o empenho de bilhões de reais sem que sua necessidade estivesse suficientemente clara e que a iniciativa fosse cercada da melhor maneira para ressarcir os cofres públicos.
O argumento de preservar a estabilidade do sistema financeiro não pode servir indiscriminadamente à inauguração de um capitalismo sem risco, no qual se socializem prejuízos toda vez que algo sai mal.

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