São Paulo, segunda-feira, 9 de dezembro de 1996
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Como fazer amigos

CELSO LODUCCA

O mercado publicitário é um dos mais fartos em festas, encontros, seminários e premiações. Para quem gosta, essas ocasiões são uma excelente desculpa para manter ou criar relacionamentos, ver e ser visto, enfim, criar laços. E, como todos, o publicitário típico tem suas próprias convenções e modos de conduta. Este é um guia resumido de como conviver com esses seres amigavelmente. Ou quase.
Primeiro, procure não se destacar demais, principalmente no seu ambiente de trabalho. Concorde com tudo, evite dar sua opinião sincera, poucos querem mesmo ouvi-la. Ache tudo ótimo, sempre. Caso você seja meio distraído e alguma opinião escapar sem querer, gargalhe imediatamente para que os outros pensem que foi só uma má piada.
Na hipótese de você ter talento (e muita gente tem), cuidado para não fazer questão de entrar nas fichas técnicas das idéias que você teve. A regra é doá-las para os diretores de criação, que, invariavelmente, gostam de ver o nome deles no lugar do seu. Às vezes eles até põem seu nome, mas por último. Relaxe. Todo mundo sabe que foi o último que fez mesmo.
Se apesar desses cuidados você começar a aparecer mais do que os outros gostariam, transfira o mérito para esses mesmos outros. Assim eles vão sempre achar que você é da turma e que já entendeu o espírito da coisa. Vão adorar, dar palmadinhas nas suas costas, desde que você continue sob as asas deles. Lembre-se: nenhum sinal de independência; pega mal.
Mas vamos supor que, por ironia do destino, você comece a ganhar prêmios injustamente, porque prêmios dos outros sempre são injustos - eles acham. Tsk, tsk, tsk, você está indo muito mal no seu intuito de ser benquisto. Todos que não ganharam já vão começar a te olhar torto, não te convidar para os almoços ou, pior, vão fingir que te admiram.
Se essa sucessão de azares te levar à direção de criação, lamento, amigo, você vai fracassar. Você já está entrando para o círculo dos que têm poucos amigos e muitos puxa-sacos.
Mas nunca, nunca mesmo, cometa o crime de abrir sua própria agência. Mas se o destino te obrigar a isso, pegue clientes ruins, pequenos e que impeçam você de fazer um bom trabalho. E, de preferência, que te levem à falência em poucos meses. Quem sabe, a pena que os outros vão sentir faça com que você recupere alguns amigos. Por fim, recuse veementemente aparecer em jornais, revistas e televisão. E, em hipótese alguma, escreva artigos. A não ser que você tenha vocação para ermitão ou que tenha desistido de ter amigos em propaganda.

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