São Paulo, terça-feira, 10 de dezembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Adolescente 'estreou' no crime aos 14 anos

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

O mito criado em torno de Leonardo Pareja foi alimentado pelo próprio assaltante, que adorava dar entrevistas e inventar ou misturar fatos sobre a sua vida.
Em outubro de 96, uma editora de Goiânia, a Multicomunicação, lançou o livro "Pareja: Vida Bandida", de Fernando Martins e Léo Alves, que reconstitui os primeiros 21 anos de vida do assaltante.
O texto final da biografia foi previamente aprovado por Pareja.
O livro confirma alguns casos que o assaltante havia narrado anteriormente, romanceia muitos episódios, mas dá uma nova dimensão a algumas histórias, como a de que Pareja foi criado num ambiente de classe média alta.
A narração de "Pareja: Vida Bandida" termina no momento em que começa a narrar o episódio que tornou Pareja célebre nacionalmente: o sequestro da estudante baiana Fernanda Viana, em 95.
Os autores prometem para 97 um segundo livro, com detalhes desse episódio e da rebelião no Cepaigo, ocorrida entre 28 de março e 3 de abril deste ano.
Abaixo, algumas histórias contadas em "Pareja: Vida Bandida":

AS DUAS MÃES - Leonardo Pareja nasceu no dia 31 de março de 1974. Foi registrado como filho de Pedro Pareja e Luzia Rodrigues dos Santos. Mas, segundo seus biógrafos, "(Leozinho) é filho de Pedro Pareja com dona Ana, uma empregada doméstica que na época trabalhava para Luzia".

O BILHETE PREMIADO - Pedro e Luzia formavam um casal de classe média alta quando Leonardo Pareja nasceu, mas a riqueza da família foi construída repentinamente e durou muito pouco tempo.
Pedro Pareja era um motorista de caminhão, e Luzia trabalhava como balconista de uma lanchonete, quando se conheceram, em 1964. Dois anos depois, segundo "Pareja: Vida Bandida", Pedro ganhou na loteria federal, comprou duas fazendas e fundou uma empresa de transportes de cargas.

A INFÂNCIA PRÓSPERA - Em 74, quando Leonardo nasceu, a família vivia, diz o livro, "o apogeu do conto de fadas". O futuro assaltante chegou a morar em um dos bairros mais nobres de Goiânia, tinha motorista particular, que o levava e buscava no jardim de infância, e estudava piano em casa, com professora.
Mas o garoto não usufruiu da riqueza por muito tempo.

O INÍCIO DA DECADÊNCIA - Os negócios de Pedro Pareja degringolam nos anos 70. Em 79, Leonardo tinha apenas 5 anos quando a decadência dos Pareja já era evidente. Após vender suas fazendas, caminhões e imóveis, a família foi morar em um apartamento alugado no centro de Goiânia.
Em 85, quando Pareja tinha 11 anos, seu pai arrumou emprego como cobrador e vendedor em duas lojas de Goiânia.
Três anos depois, a família se mudou para um apartamento na periferia de Goiânia.

O PRIMEIRO FURTO - Em 89, aos 14 anos, realiza o seu primeiro furto. Pareja trabalhava como office-boy na Secretaria dA Educação, quando levou para casa 15 mil passes escolares de ônibus. O dinheiro obtido com a revenda dos passes foi gasto em roupas.
Aos 15 anos, devido a uma amizade com um ladrão de carros e traficante, é detido pela primeira vez e liberado após algumas horas.

O PRIMEIRO REVÓLVER - No aniversário de 16 anos, ganhou o seu primeiro revólver, presente do amigo traficante. Nessa época, chegou a fazer um curso de informática e ter aulas de inglês.
No final de 1990, ainda com 16 anos, começa a praticar um tipo de crime no qual se especializaria: furto de automóveis.
Antes de completar 18 anos, também já é famoso em Goiânia como assaltante de motocicletas. Nessa fase, é preso pela segunda vez e passa dez dias detido, sendo reconhecido por várias vítimas.

O SUPER-ROUBO - No dia 9 de abril de 92, dias após fazer 18 anos, Pareja está vivendo uma desilusão amorosa quando reúne dois amigos, rouba um carro e sai assaltando postos de gasolina, em Goiânia. Em algumas horas, o trio contabiliza oito assaltos.
Na noite seguinte, os três voltam a assaltar os mesmos postos -e só no último ocorre uma reação, levando os assaltantes à fuga e, posteriormente, à prisão.
Mais tarde, já famoso, Pareja vai reivindicar, com alguma dose de ironia, a sua inclusão no Livro dos Recordes por esse feito.

A PRIMEIRA FUGA - O super-roubo a postos de gasolina rendeu a Pareja a sua primeira condenação judicial e motivou a sua primeira fuga cinematográfica, que ocorreu cinco meses após a prisão. Após uma confusão na Casa de Prisão Provisória, em Goiânia, Pareja deixa o presídio andando, pela porta da frente.

A SEGUNDA FUGA - Recapturado pouco depois da fuga, Pareja retorna à Casa de Prisão Provisória, sendo depois transferido para o Cepaigo. Cumpre quase dois anos da pena, até se meter numa briga de presos e ser transferido ao Hospital de Urgências de Goiânia.
No dia 15 de dezembro de 94, enquanto se recuperava de ferimentos, consegue enganar três guardas e escapa pelos fundos do hospital.

PRISÃO E SUBORNO NO PARÁ - Longe de sua área preferencial de atuação, Pareja vai ao Pará, em julho de 1995, onde volta a ser preso.
Mas, segundo seus biógrafos, a polícia do Pará não sabe que prendeu um foragido da Justiça. Pareja é solto, segundo o livro, após subornar os policiais com R$ 4.000.

INVASÃO DE PRESÍDIO - No final de julho de 95, numa ação audaciosa, Pareja lidera uma invasão ao Presídio de Anápolis, libertando quatro presidiários.
Um mês depois, no final de agosto, vira celebridade nacional, ao sequestrar, em feira de Santana, a menina Fernanda Viana e mantê-la em cativeiro por 58 horas.

Texto Anterior: Namorada diz que os dois iam fugir para fora do país
Próximo Texto: Filme sobre vida de Pareja não mostrará a morte
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.