São Paulo, quinta-feira, 12 de dezembro de 1996
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VIAJAR E FUGIR

Os brasileiros, sobretudo os de menor poder aquisitivo, viajam cada vez mais ao exterior. A estabilização, o crédito mais fácil e a valorização do real -que barateia o turismo no exterior- oferecem chances inéditas.
Do funcionário que vai a Cancún financiando-se em sete prestações ao turista que pela primeira vez usará um avião, depois de anos viajando de ônibus, o mercado turístico amplia-se. Algumas agências triplicaram o número de clientes em seus pacotes para o exterior neste ano.
A nova onda de turismo de brasileiros também provoca inconvenientes. Alguns incidentes diplomáticos têm ocorrido, seja porque algumas exigências para concessão de vistos criam embaraços, seja porque os brasileiros são vistos às vezes como gente de "maus modos". A Disney, por exemplo, anunciou um programa de "reeducação" de brasileiros.
Outro aspecto delicado é que a balança de turismo é deficitária. Os brasileiros gastam mais no exterior do que os estrangeiros despendem aqui. Se os importados ajudam a derrubar os preços de muitos produtos no Brasil, nos serviços (o que inclui o turismo) um efeito análogo ainda não se fez sentir. O turista brasileiro, portanto, viaja ao exterior também para fugir do que lhe querem cobrar em hotéis, restaurantes e por outros serviços na sua terra natal.
É evidente que, para combater o déficit no turismo, há inúmeros obstáculos. Afinal, a carente infra-estrutura do país no setor tem a sua parcela de responsabilidade no chamado "custo Brasil". Os esforços nessa área são ainda insuficientes, e há conflitos de interesse. O governo e a iniciativa privada brigam, por exemplo, para definir padrões de qualidade na indústria hoteleira brasileira.
Como se já não bastassem os custos elevados de fazer turismo pelo Brasil, os viajantes terão de confrontar sistemas classificatórios incongruentes ao tentarem escolher um hotel. Isso é típico e é mais um motivo para ir ao exterior. No mínimo, para fugir da burocracia brasileira.

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