São Paulo, quinta-feira, 12 de dezembro de 1996
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Estamos no mesmo barco

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Mais uma vez, Clóvis Rossi nos explica como andam as coisas lá fora. Em Cingapura, cobrindo a Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), ele constata que a globalização imposta pelo mercado internacional nada mais é do que o velho imperialismo.
O decantado Primeiro Mundo, em cujo saco o governo atual pretende meter o Brasil à força, está agindo como queria Hitler em seu delírio de domínio mundial. Só que para ele as nações eleitas seriam as de sangue ariano. As demais deveriam se submeter, à força, produzindo alimentos, matérias-primas e mão-de-obra barata, em alguns casos, mão-de-obra escrava. (Parece que ninguém mais lê o "Mein Kampf". A modernidade neoliberal aplica muita coisa de seus ensinamentos).
Enquanto as nações ricas deslancham na informática e telecomunicações, dominando o universo virtual, os países pobres continuam preocupados em produzir e vender, pelo preço menos vil possível, os produtos de sempre: açúcar, frutas, café, minérios -o menu tradicional das colônias anteriores à Segunda Guerra.
A globalização, na retórica neoliberal, procura criar o definitivo paraíso da economia universalizada. Como dizia aquele almirante inglês para o marujo, devemos suportar tudo porque estamos no mesmo barco.
Os detalhes que Clóvis Rossi explicitou mostram exatamente como a globalização está funcionando. Ainda que todos os países abrissem fraternalmente os seus mercados, o que o Brasil poderia exportar em termos de informática e telecomunicações?
O marujo não come na mesma mesa do almirante. E seu cardápio é diferente. Na "pax" firmada depois da queda do Muro de Berlim, a globalização neoliberal espera que o Brasil continue cumprindo o seu dever, produzindo e vendendo a preço de banana a própria banana.

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