São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Déficit de altura é o principal problema

Criança brasileira cresceu 2,4 cm por década

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O brasileiro é um espanto. Só perde para o japonês em ganho de altura no pós-guerra.
No Japão, a disseminação do consumo de carne após 1945 elevou a altura das crianças em 2,6 cm por década. No Brasil, o ganho por década das crianças de 7 anos foi de 2,4 cm, segundo Carlos Augusto Monteiro, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP.
O Brasil foi melhor do que a China (1,8 cm a mais por década) e a ex-Tcheco-Eslováquia (1,0 cm).
Acaba aí a boa notícia. O principal problema das crianças brasileiras hoje não é magreza -é déficit de altura para a idade.
Há três indicadores para aferir o quanto é saudável uma população ao se tirar suas medidas: altura em relação à idade; peso em relação à altura e peso em relação à idade.
Um em cada dez brasileiros tem déficit de altura para a idade -ou exatamente 10,5%. É mais de três vezes o padrão considerado normal -3%. Na área rural, o problema atinge 19% das crianças com menos de 5 anos (veja quadro).
Altura é o principal problema porque parte da população não consome os alimentos que irão ajudar a determiná-la. O principal deles é dos mais caros -carne.
O brasileiro adulto passou de 1,69 m em 1960 para 1,75 m em 1990 porque as condições de vida melhoraram, segundo Monteiro. Melhoraram os serviços de saúde, de saneamento e a alimentação.
Contrastes
Não foram todos os brasileiros que viraram varapau. O aumento de altura é maior em famílias de rendas mais altas.
"Nas classes mais altas, o crescimento de altura é igualzinho ao dos Estados Unidos", diz Ana Lydia Sawaia, da Universidade Federal de São Paulo. "O déficit de altura se dá entre os pobres".
No caso das famílias cuja renda ultrapassa cinco salários mínimos, a curva de crescimento é idêntica à norte-americana -padrão adotado pela Organização Mundial de Saúde (veja no quadro ao lado).
A defasagem maior acontece entre os que têm renda familiar de até dois salários mínimos.
Nos casos de pobreza absoluta -famílias com renda familiar per capita menor do que um quarto de salário mínimo- há quatro vezes mais homens baixos do que nas que vivem com dois mínimos.
No caso de subnutrição, Monteiro nota que houve uma queda entre 1989 e 1996 sem que houvesse aumento significativo de renda -melhorou o serviço de saúde e as famílias estão diminuindo de tamanho, segundo ele.
Com o déficit de altura, Sawaia acha mais difícil ocorrer uma melhora significativa sem uma mudança na distribuição de renda.
O melhor exemplo de que distribuição de renda evita o fosso de altura entre classes é a Suécia. Lá, não há diferença de altura entre classes.
(MCC)

Texto Anterior: Altura do adulto é definida até os 7 anos de idade
Próximo Texto: Genética e nutrição determinam estatura
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.