São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 1996
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CUT desiste do sindicato de São Paulo

Falta verba para campanha

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
DA REPORTAGEM LOCAL

Não há decisão oficial. Mas, no que depender da posição de dirigentes ouvidos pela Folha, a CUT, pela primeira vez desde que foi criada, não vai lançar chapa para concorrer à eleição do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, no primeiro trimestre de 97.
Há sindicalistas da CUT até mesmo sondando a Força Sindical para tentar a possibilidade, remota, de participar da chapa de situação.
"Temos posições políticas diferentes e estar na mesma chapa que a CUT seria impossível", diz o atual presidente do sindicato, e provavelmente o futuro, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho.
Fator financeiro
Pesa forte na decisão da CUT o fator financeiro. O Sindicato dos Metalúrgicos da cidade de São Paulo, o maior da América Latina, com orçamento de R$ 46 milhões para 97, tem 300 mil trabalhadores na base, em 10 mil empresas.
Paulinho diz que vai gastar de R$ 500 mil a R$ 600 mil para tentar se reeleger. Uma oposição, calcula Paulinho, poderia ter gastos de até R$ 1,5 milhão. E a CUT e seus sindicatos estão sem dinheiro.
"A discussão está rolando. Mas fazer uma chapa só por fazer, sou contra", diz o presidente da Confederação dos Metalúrgicos da CUT, Heiguiberto Guiba Navarro.
Há também fatores políticos. O presidente da CUT Estadual São Paulo, José Lopez Feijóo, já defendia, em eleições anteriores, que a central deixasse de lançar chapa para disputar o sindicato e criasse uma associação paralela.
A associação serviria de base para a construção de um futuro sindicato da CUT, quando a unicidade sindical (proibição da existência de dois sindicatos da mesma categoria na mesma base territorial), hoje prevista na Constituição, acabasse.
A posição de Feijóo ganha força com a idéia do governo de acabar com a unicidade sindical. Também se fortalece com as mudanças internas que a CUT já aprovou. A central quer criar, após o fim da unicidade, o seu próprio sindicato de metalúrgicos para todo o Estado de São Paulo.
Divisão de tarefas
Há também a proximidade de Paulinho, que já foi do PT, com alguns dirigentes da CUT. Alguns até propõem a divisão de tarefas: a Força Sindical fica com a cidade de São Paulo e a CUT, com o ABCD.
Apesar das brigas em Santo André, as centrais já se ajudaram em campanhas salariais neste ano.
Na atual gestão de Paulinho, a CUT deixou de fazer oposição na base metalúrgica de São Paulo. A influência da CUT restringe-se, hoje, à Ford Ipiranga. Se lançasse uma chapa, poderia fazer feio. Na última eleição, em 93, a Força Sindical teve 86% dos votos.
Sem nomes
Sem trabalho de oposição, há uma falta absoluta de nomes de peso para encabeçar uma chapa 2, quer seja da CUT ou não.
Lúcio Bellentani, ex-CUT e hoje presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da Força Sindical, aparece como o único nome possível para disputar a presidência de uma oposição.
Apesar de não manter boas relações com o centro dirigente da Força Sindical, Bellentani não parece muito animado a cumprir a ingrata tarefa. "Estou esperando o Paulinho me convidar para fazer parte da chapa dele." Paulinho se diz "traído" por Bellentani e nega que fará o convite.
João de Souza Neto, o João da Ford, afastado da diretoria do sindicato dos metalúrgicos, poderia ajudar a compor uma chapa de oposição. Mas está ma cadeia, por suposta tentativa de montar esquema para matar Paulinho.

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