São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Baixa consciência do "internacional"

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

A recente reunião da Organização Mundial do Comércio em Cingapura teve o mérito de trazer para o noticiário os diversos temas pelos quais está se desdobrando a intensa internacionalização da economia mundial.
O leitor atento deve ter percebido que nessa nova ordem os jogadores de peso são os Estados Unidos, a União Européia e o Japão, mais países asiáticos. O Brasil, individualmente, é ficha pequena; já, enquanto membro do Mercosul, conta um pouco mais, pois o bloco agrega uma dimensão política.
No tema que dominou a discussão, a liberalização do comércio de produtos de informática, tínhamos pouco a dizer: nossa capacidade competitiva nos segmentos de alta tecnologia é baixa porque o custo de geração desses produtos é alto.
Desejar que o mundo fosse diferente não muda a realidade. Acreditar que nós possamos "fechar as fronteiras" é outro sonho, dada a facilidade de trazer e remeter bens ao exterior.
Seria desejável que a reunião da OMC despertasse a consciência das elites econômicas e governamentais para a relevância das relações internacionais nessa fase de globalização.
O Brasil, como outros países grandes, costuma olhar o lado de fora de sua economia como algo distante. Mas as novas realidades da economia mundial, em mutação veloz, terão repercussões internas cada vez maiores e mais imediatas. Neste sentido, o país precisaria ter núcleos mais ativos para refletir e articular os interesses da nação diante dessa internacionalização para poder ser mais competitivo.
Ao se fazer, entretanto, um balanço do número de pessoas ou de instituições que refletem ou estudam sistematicamente "o setor internacional", vê-se que o quadro é de escassez. Um exemplo: a disciplina "economia internacional" tem pouco espaço curricular nos cursos de economia e é praticamente inexistente nos cursos de administração.
Estudos comuns de economia e direito internacional são praticamente inexistentes, embora hoje as leis do comércio internacional tenham abrangência crescente e forte conteúdo de modelos econômicos.
Já que estamos tentando recolocar o país em pé, é preciso voltar a refletir sobre as metas maiores da nação. Entre essas, inclui-se estar inserido competitivamente na economia mundial. Só que isso não ocorre como obra do acaso; precisa ser construído.

Álvaro Antônio Zini Júnior, 43, é professor titular de economia internacional da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo.

Texto Anterior: CUT desiste do sindicato de São Paulo
Próximo Texto: Previdência permite adiar a conta do IR
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.