São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 1996
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Candinho dá conselhos

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

José Cândido Sotto Maior, o Candinho, 51, iniciou carreira de técnico há 20 anos, dirigindo o time juvenil do Palmeiras.
Após passagens por Catanduvense, XV de Jaú, XV de Piracicaba e São Bento, foi campeão da Taça Prata, pelo Juventus, em 82.
Em 84/85 e 88/89, trabalhou no Al Helal, da Arábia Saudita, conquistando dois títulos, o nacional e o da Copa do Rei. Em 94, classificou a seleção do país para a Copa-94.
A Portuguesa, Candinho comanda pela terceira vez. A primeira foi em 83; a segunda, em 94/95.
A seguir, as perguntas de Luiz Felipe e as respostas de Candinho.
(JCA)
*
Luiz Felipe - Em primeiro lugar, parabéns pelo excelente trabalho na Portuguesa. O time entrou desacreditado no campeonato, mas está mostrando sua potencialidade e a força de seu trabalho.
É mais fácil comandar um time que corre por fora, com menos cobrança do que os tidos como favoritos?
Candinho - São desafios diferentes. Talvez pelo meu perfil, o de um cara que fala na frente dos outros o que pensa, que não mede palavras, portas tenham se fechado. Mas, se algumas fecharam, outras se abriram.
Tenho orgulho de ter sido campeão brasileiro pelo Juventus, quando disputamos a Taça de Prata, jogando no Parque São Jorge.
Pegamos adversários difíceis, como o Atlético-MG, mas depois as pessoas esquecem e dizem: "Taça de Prata? Não vale nada".
Agora, só por ter chegado à final com a Portuguesa, quando não davam nada para a gente, já foi um feito.
O clube está tendo uma repercussão enorme, que há décadas não tinha, não há nada que pague isso.
Mas aposto que, se a gente perder a final, vão dizer que morremos na praia. Não é nada disso. Já estamos em alto-mar.
Luiz Felipe - Que ensinamentos você passa para seus jogadores?
Candinho - Passo meu exemplo pessoal. Não fui um grande jogador, mas vivo do futebol desde meus 14, 15 anos. Soube guardar dinheiro, ter uma vida regrada, ter hoje um patrimônio razoável.
Converso esse tipo de coisa com meu jogador, acho que o técnico também tem essa função extracampo.
Na Portuguesa, por exemplo, alguns jogadores já foram parados pela polícia para mostrar o documento do carro. Infelizmente, no Brasil, há racismo, de modo que isso acontecia mais com os negros do nosso time.
Sempre falei para eles tomarem cuidado, não reagir e andar com uma carteira do clube. Na pior das hipóteses, ainda davam um autógrafo para o policial.
Luiz Felipe - Você é a favor de cursos para técnicos?
Candinho - Depende do curso. Na vida, a gente está sempre aprendendo e deve estar aberto para novas lições. Mas, para mim, o técnico se forma na prática. O diploma não diz nada.
Luiz Felipe - Em que técnicos você se espelhou?
Candinho - O Osvaldo Brandão e o Rubens Minelli me ensinaram muito.

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