São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 1996
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Na Lusa, nada é simples

JORGE CALDEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Bão, balalão, senhor capitão, tirai este peso do meu coração. Hoje é um bom dia para ser campeão. O problema é um só: saber combinar o verde da esperança com o vermelho da atenção, o que, no caso da Lusa, como tudo na Lusa, não é tão simples.
Me explico com um caso pessoal. Era criança no início dos anos 60, com duas opções.
Uma, da família de minha mãe. Ia sempre visitar uns tios em Santos. Eles tinha cativa na Vila Belmiro e a esperança de me convencer.
A estratégia era banal. Bastava colocar ao alcance dos meus olhos Pelé, Coutinho e cia. -o que, de fato, era um espetáculo inesquecível.
Porém, e sempre tem um porém, havia meu avô, o velho dr. Caldeira e seu Ford 37. Vez em quando me levava ao Pacaembu para ver sua Lusa. Cartola aposentado, tinha direito a lugar na tribuna. E eu, que ia com ele, a guaraná caçula.
Um planeta se escondia neste detalhe. Para meus olhos infantis, time com guaraná caçula era muito mais importante que o da justa empáfia de meus tios. Desde então torço pela Portuguesa, sem arrependimento por ter sonhado na infância.
Conto tudo isto para dizer o seguinte: o jogo de hoje é um gigantesco guaraná caçula para os lutadores que fizeram a campanha vitoriosa da Lusa.
E o risco está aí. O time é forte porque só teve um caminho, o da luta. Ninguém pediu metade do que ele deu lutando.
Agora, há uma imensa carga de esperança no ar.
Por isso, o jogo de hoje vai ser resolvido dentro da cabeça de cada jogador da Portuguesa. Todos lhes empurram esperanças, que eles alimentam: glória, contrato novo, a fama, o céu.
Se tudo isso virar esperança dos jogadores, antes do apito final, podem ter certeza de que o time desliga, como fez no segundo tempo da primeira partida.
Agora, se o time, sob o comando do bom e velho Capitão, jogar como costuma, de cabeça vazia de esperança e um brilho de faminto nos olhos, sou Portuguesa e dou dois.

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