São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 1996
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Água mineral, suor e sêmen podem causar reação alérgica

VANESSA DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Água mineral, melancia, sêmen. Praticamente tudo o que existe pode causar alergia, uma resposta exagerada do sistema de defesa do organismo contra substâncias que ele identifica como estranhas, os alérgenos.
O organismo, por sua vez, é capaz de responder aos alérgenos com uma diversidade tão grande de sintomas quanto são variadas as substâncias causadoras de alergia.
Um exemplo: coceiras, urticárias, dores de cabeça, dores nas articulações, tonturas, paralisia temporária, descamações que lembram as causadas por uma queimadura de 1º grau e até morte.
Segundo o alergologista Hélio Schainberg, membro da Sociedade Americana de Alergia e ex-pesquisador do Instituto Nacional de Saúde de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA, a grande variedade de sintomas é um dos principais problemas dos alérgicos, que muitas vezes são diagnosticados imprecisa ou erroneamente.
"Muitos dos sintomas são, algumas vezes, confundidos com somatizações, por exemplo, decorrentes de processos depressivos. Mas a falha aqui pode ser o fato de o médico não se dar ao trabalho de fazer um histórico clínico do paciente para saber o por quê dos sintomas", diz. Descobrir quais as substâncias responsáveis pela reação alérgica é quase um trabalho de detetive.
Schainberg cita o caso de um paciente que começou a apresentar lesões na mão após ter andado de jet-ski. Os testes mostraram que o paciente tinha alergia a etilenodiamida, uma substância usada para endurecer a borracha.
Mas algumas lesões começaram a persistir, mesmo com o tratamento adequado. "Persistiam três lesões: duas nos dedos e uma entre o polegar e o indicador, justamente os pontos tocados por uma ca neta", relata o médico. Após trocar uma caneta de plástico por uma de madeira as lesões melhoraram.
Alguns testes são capazes de descartar a possibilidade de o paciente estar "somatizando", como o teste no escuro. São dadas cápsulas iguais ao paciente, e apenas uma delas contém o alérgeno.
Outros testes, como o "rast", são capazes de rastrear substâncias alergênicas. A lista de substâncias capazes de ser rastreadas pelo exame é quase infinita.
Vacinas
O tratamento contra as alergias varia desde medicamentos que aliviam momentaneamente os sintomas, como os anti-histamínicos, a vacinas.
"Mas há indicações precisas para a prescrição da vacina. O tratamento é caro e nem sempre a relação custo-benefício é vantajosa." Segundo Schainberg, estudos recentes mostram que algumas vacinas -especialmente contra ácaros, principal causa de alergias respiratórias em São Paulo- são muito eficientes. Vacinas também são eficazes contra alguns insetos picadores, pólens e gatos.
Estudos internacionais mostra ram que as vacinas são capazes de estimular uma substância fabricada pelo sistema de defesa do organismo, a IGG4, que parece funcionar como uma espécie de "freio fisiológico", impedindo que o corpo tenha uma hiper-resposta, a chamada alergia.
"Quando uma pessoa normal entra em contato com uma quantidade muito grande de ácaros -400 ácaros por centímetro cúbico- também tende a ter coriza e espirrar", diz Schainberg.
Entretanto os não-alérgicos são capazes de produzir uma quantidade elevada de IGG4.
Já os alérgicos têm baixa capacidade de moderação, isto é, produzem níveis reduzidos de IGG4. "É uma hipótese, mas estudos recentes vêm demonstrando que parece ser esse o mecanismo."
Algumas vacinas injetáveis são capazes de fazer, cerca de 24 meses após as aplicações, com que os níveis da substância que desencadeia o processo alérgico (IgE) baixem, ao mesmo tempo em que é estimulada a produção de IGG4.
"Assim, após o contato com o ácaro, o organismo passa a ter uma capacidade de moderação próxima do normal", diz.

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