São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 1996
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O jogo duro do comércio

CLÓVIS ROSSI

Cingapura - Acabou-se o tempo em que diplomacia tinha a fama, justa ou injusta, de ser um esporte de punhos de renda.
Para amostra, basta acompanhar o encontro entre a delegação brasileira e a da União Européia, na terça-feira, durante a Conferência Ministerial da OMC (Organização Mundial do Comércio), encerrada anteontem em Cingapura.
O chanceler brasileiro, Luiz Felipe Lampreia, sabia que uma das questões que seriam levantadas seria a das cotas que o Brasil impôs para a importação de veículos pelas montadoras não instaladas no país.
Os europeus resmungam a respeito, porque acham que a regra viola normas da OMC.
Muito bem. Lampreia entrou na sala e foi logo apresentando o senador José Serra (PSDB-SP), ex-ministro do Planejamento, como o "pai" da idéia das cotas.
Sir Leon Brittan, uma espécie de ministro europeu do Comércio, nem assim se conteve. Disse que era importante respeitar os princípios, no caso os da OMC. Mas insinuou claramente que os princípios poderiam ser deixados de lado, desde que os interesses europeus fossem contemplados, via aumento da cota destinada às montadoras européias não instaladas no Brasil.
Do contrário, insinuou de novo, a União Européia sentia-se no direito de reclamar à OMC.
Lampreia devolveu no mesmo tom e moeda: insinuou que o Brasil sentia-se igualmente no direito de, nessa hipótese, reduzir tais cotas.
Depois, passou-se à discussão sobre agricultura.
A Europa protege seus produtores agrícolas descaradamente. O Brasil quer ao menos reduzir tal proteção para ter acesso aos mercados europeus.
Resposta de sir Leon Brittan: quanto mais os países produtores agrícolas insistissem no tema, pior seria.
Despediram-se sorridentes.

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