São Paulo, quinta-feira, 19 de dezembro de 1996
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O Rodoanel de São Paulo

NEWTON CAVALIERI

Os recentes congestionamentos em todas as principais rodovias paulistas antecipam problemas que na certa se agravarão nos próximos meses, de alta temporada, pondo em risco a vida do usuário desses sistemas e dificultando o escoamento da produção agroindustrial.
Sabe-se que não há solução única que permita equacionar a questão, mas se impõe uma série de medidas, algumas urgentes e outras a médio prazo, sob pena de São Paulo mergulhar no caos, com todas as consequências sociais e econômicas daí decorrentes.
De imediato, o governo deve pensar em viabilizar o Rodoanel, projeto que há muito se encontra no papel e que, implantado de forma abrangente, poderá, se não for a solução total para os congestionamentos na região metropolitana, sem dúvida significar considerável progresso, principalmente se forem tomadas cautelas fundamentais para evitar a saturação do sistema em pouco tempo.
Uma delas se refere à reurbanização das áreas lindeiras, considerando que bairros-dormitórios nas periferias da capital apenas agravam o problema do transporte, tanto individual quanto coletivo. Como consequência, haveria a inevitável desconcentração para a periferia de vastos segmentos industriais, comerciais e de serviços.
De forma contínua, o Rodoanel é a denominação de projeto específico com raio aproximado de 30 km e 180 km de extensão. Como o próprio nome indica, é sistema viário destinado a facilitar a circulação de veículos em torno da região metropolitana, evitando o acesso ao centro, hoje ponto de passagem de muitos veículos cuja destinação específica não é essa área e que só a atravancam, por falta de opções. Outra grande utilidade do Rodoanel é a interligação das rodovias paulistas, hoje confluindo para a capital, com todos os problemas daí decorrentes.
Devem ser analisados, alternativamente, outros traçados com os mesmos objetivos, como por exemplo a hoje quase esquecida estrada de Parelheiros, opção que continua válida em termos de prolongamento com destino direto à SP-55 (rodovia Pedro Taques) e, portanto, à Praia Grande e ao litoral sul, principalmente pelos veículos de passageiros.
O transporte de carga ao porto de Santos também seria beneficiado, desafogando o sistema Anchieta-Imigrantes. Isso não significa o abandono da construção da quarta pista da Imigrantes e da melhoria no sistema de cobrança de pedágio.
Por outro lado, há que agilizar o processo de concessão dos complexos rodoviários paulistas, a exemplo do que vem sendo feito na esfera federal, cujo governo já transferiu à iniciativa privada, entre outras, a rodovia Presidente Dutra, a ponte Rio-Niterói e o Juiz de Fora-Teresópolis, enquanto São Paulo não concretizou nenhum projeto, continuando a patinar sobre a questão.
Cumpre, ainda, aos representantes do Estado no Congresso, maior empenho na aprovação do Fundo Rodoviário dos Transportes, que, ao dividir recursos vinculados entre União, Estados e municípios, possibilitará a redenção de rodovias que se encontram em situação precária.
O problema dos transportes e do trânsito urbano têm diversas soluções, mas é necessário que existam vontade e determinação para descobri-las e enfrentá-las. Isso reverterá em benefício da população, na forma de melhores e mais seguras estradas, menos engarrafamentos e vias mais adequadas ao escoamento da produção agroindustrial, sem falar na geração de empregos e consequente riqueza.

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