São Paulo, quinta-feira, 19 de dezembro de 1996
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Cavallo tem um 'dia de cão' na Argentina

RODRIGO BERTOLOTTO
DE BUENOS AIRES

O ex-ministro da Economia da Argentina Domingo Cavallo sofreu ontem os mais duros reveses em seu conflito político com o governo de Carlos Menem, do qual fez parte até julho deste ano.
O mentor do plano que acabou com a hiperinflação argentina começou o dia vendo seu auxiliar Gustavo Parino ser preso, após desembarcar no aeroporto internacional de Ezeiza, em Buenos Aires.
Parino é acusado de ter facilitado o contrabando quando foi chefe da administração do setor alfandegário argentino.
Cavallo e um grupo de colaboradores chegou ao aeroporto à 0h de ontem, esperando o desembarque de Parino, o que aconteceu 50 minutos depois.
Mas Cavallo não pôde se aproximar de seu auxiliar, que foi detido pessoalmente pelo juiz do caso, Guillermo Tiscornia.
"Esta é uma atitude vexatória para os direitos humanos. Tenho vergonha de ter sido ministro deste país", disse Cavallo.
Para ele, Parino é o primeiro preso político do governo Menem. "Vou ser o segundo", disse.
Em resposta à afirmação de Cavallo, o ministro da Justiça, Elías Jassan, disse que não há presos políticos na Argentina.
Manifestação armada
Às 9h, seis ônibus levaram uma centena de manifestantes para a porta do edifício onde vive Cavallo.
Segundo testemunhas, um grupo de homens bem-vestidos e usando celulares comandava mulheres e crianças trazidas de favelas do subúrbio de Buenos Aires.
Aos gritos de "Cavallo ladrão" e portando cartazes em que estavam escritas frases como "Prisão para Cavallo e os corruptos", o protesto acordou o ex-ministro, que desceu para discutir com os manifestantes.
"Cometi erros, mas não sou ladrão", afirmava em tom emocionado o ex-ministro para as pessoas que o culpavam pela crise social do país. Depois de 30 minutos, voltou para seu apartamento, chorando.
Alguns participantes do ato afirmaram que foram enganados, imaginando que iriam a uma passeata pela reabertura do mercado central no bairro de Ituizangó.
"Se soubesse que iria participar de uma manifestação dessas nunca traria meus filhos", disse uma mulher presente.
Cavallo desconfia que membros portenhos do Partido Justicialista (peronista), do presidente Menem, organizaram o ato.
Tensão política
Empresários e políticos argentinos se mostram preocupados com a situação atual do país. Eles querem uma trégua entre Cavallo e o governo do presidente Menem.
Desde outubro, Cavallo troca acusações e processos com os atuais ministros e pessoas próximas a Menem.
O confronto tem como pano de fundo as eleições legislativas de 1997 e está transcorrendo nos tribunais do país. O lado que sair ileso das ações judiciais terá mais trunfos na próxima campanha eleitoral.

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