São Paulo, quinta-feira, 19 de dezembro de 1996
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CD reúne 25 anos de preciosidades de Ney

DA SUCURSAL DO RIO

O ex-hippie e artesão Ney Matogrosso, que vendia chinelos de couro para sobreviver na virada dos anos 60/70, comemora os 25 anos de sua carreira de cantor com o lançamento do CD duplo "Vinte e Cinco".
Uma seleção de 28 das músicas já interpretadas por Ney, traz preciosidades como "Rosa de Hiroshima" (Vinicius de Moraes/Gerson Conrad), "Balada do Louco" (Arnaldo Baptista/Rita Lee) e "Tanto Amar" (Chico Buarque).
Com 55 anos e em ótima forma física, apurada em sessões de hidromassagem, Ney conseguiu em seu novo disco revisitar sua carreira sem mudar, em geral, a essência de músicas que ajudou a imortalizar.
Como ele mesmo explica, alguns arranjos foram alterados, mas o principal destaque de "Vinte e Cinco" é o apuro de sua voz, o trabalho para tornar as palavras cantadas mais claras.
"Acho que estou mais maduro cantando. Minha voz está mais encorpada. Antes, eu tinha os agudos muito presentes. Mas não tinha médios e graves. Acho que foi a idade", afirma.
O cantor diz que apenas nos últimos anos conseguiu encontrar o tom certo para gravar em estúdio. "Eu tinha uma tendência a me exceder nas gravações. Eu cantava como se estivesse cantando ao vivo, no palco. Ficava over."
Intérprete razoável
Ney é apontado pelos críticos como um dos melhores intérpretes da música brasileira. Mas no início da carreira, a dúvida o perseguia. Não se considerava bom cantor, apenas um intérprete "razoável".
Foi apenas em 1987, ao lançar "Pescador de Pérolas", que Ney diz ter começado a cantar. O disco representou uma virada na carreira. Pela primeira vez, surgia de cara limpa, sem as pinturas e os trajes extravagantes que usava.
"O mais sacrificado pra mim foi tirar a máscara", afirma. Ao formar o "Secos & Molhados" em 71, grupo que o lançaria para a fama nacional, Ney chocou o país com seu jeito andrógino, seus requebros e o rosto pintado, mascarado.
Mas, ele diz que não se mascarava para chocar. "Eu tinha a intenção de me esconder, para que não me conhecessem na rua."
A explosão do "Secos & Molhados", com músicas como "Vira" (Luli/João Ricardo) e "Rosa de Hiroshima", que estão no CD "Vinte e Cinco", foi uma transformação na vida de Ney.
Antes de se tornar cantor, Ney vivia do trabalho de artesão, vendendo seus produtos para a butique Frágil, em Ipanema (zona sul). "Eu não queria me misturar à sociedade organizada, gostava de não estar dentro."
Com o sucesso, começaram os problemas com a censura do então regime militar. Os censores não queriam que Ney aparecesse na televisão com sua cara pintada, seu rabo-de-cavalo, seus requebros.
Pedaços dessa história de censura estão também em "Vinte e Cinco". A música "Tem Gente com Fome" (João Ricardo/Solano Trindade), proibida na época do grupo "Secos & Molhados", só seria lançada em 1980, no disco "Seu Tipo".

Disco: Vinte e Cinco
Artista: Ney Matogrosso
Lançamento: PolyGram
Quanto: R$ 20

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