São Paulo, quinta-feira, 19 de dezembro de 1996
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TEMPOS DE MUDANÇA

Em seu discurso logo após ser confirmado como o novo secretário-geral da Organização das Nações Unidas, o ganense Kofi Annan, 58, apresentou-se como o condutor de uma grande mudança no funcionamento e na própria filosofia da entidade. Segundo ele, a ONU e seus países membros devem redefinir suas relações, o que implicaria esforços tanto da direção como dos membros para reerguer a instituição.
O discurso de Annan, que toma posse em seu novo cargo em 1º de janeiro, chega em boa hora para a organização. Desacreditada administrativamente e num impasse político que opôs o secretário-geral, Boutros Boutros-Ghali, e os Estados Unidos, a ONU só tem um caminho possível para sobreviver dentro da nova ordem internacional: admitir seus erros e tentar se modernizar.
A ONU desenvolveu-se num ambiente de Guerra Fria e teve o importante papel, durante décadas, de administradora de um embate entre Ocidente e Oriente. Depois do colapso do regime comunista, foi criticada em diversas de suas missões de paz em conflitos regionais, como na Somália, na Bósnia e em Ruanda.
Ironicamente, o novo secretário-geral é exatamente o atual responsável por essas tão criticadas missões, o que não o impediu de chegar ao posto máximo da entidade. Sua escolha deveu-se menos aos resultados de seu recente trabalho e mais a suas características de conciliador, qualidade essencial para que a ONU saia do impasse em que se encontra.
Elogiado por seu sucessor, o egípcio Boutros-Ghali deixa o cargo abalado pelas críticas que recebeu. Mas fez um alerta importante, cobrando a preservação da independência da ONU, princípio fundamental para seu bom funcionamento, em clara alusão à forte influência dos Estados Unidos sobre a instituição.
Os próximos cinco anos, com Anann à sua frente, deverão ser tempos de mudança para a Organização das Nações Unidas, assim como um grande teste para a entidade descobrir como pode ser realmente útil dentro do atual mundo globalizado.

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