São Paulo, quinta-feira, 19 de dezembro de 1996
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Os Bórgia de arrabalde

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - O caso da lista dos deputados do PPB que devem ao Banco do Brasil é o segundo exemplo de canhestra espionagem política em que se metem inquilinos do Palácio do Planalto.
O primeiro foi o "grampo" nos telefones do embaixador Júlio César Gomes dos Santos, à época chefe do cerimonial, colocado sob suspeita de estar favorecendo a empresa norte-americana Raytheon, no caso Sivam, pelo então secretário particular do presidente, Francisco Graziano.
Deu em nada. Ninguém foi punido, embora o sentido comum indique que alguém cometeu um pecado grave. Ou o embaixador, ao favorecer a Raytheon, ou Graziano, ao suspeitar indevidamente de um funcionário público muito bem situado.
Agora, vem o caso da lista. As suspeitas se voltam para dois outros palacianos de copa e cozinha, o secretário-geral, Eduardo Jorge, ou o ministro da Coordenação Política, Luiz Carlos Santos, que, de resto, trocam fuxicos que depois desmentem.
Também vai dar em nada, embora violar sigilo bancário constitua crime. Só se saberá mesmo a verdade se o governo insistir em jogar a culpa nos dois funcionários do Banco do Brasil preventivamente afastados.
Correndo o risco de perderem as vantagens inerentes ao funcionalismo público, se forem responsabilizados por falta grave, os dois certamente não vão querer cair sozinhos e apontarão o dedo para quem de direito.
Dá para sentir saudades da corte florentina dos Bórgia.
Pelo menos, esse pessoal resolvia as coisas, ainda que recorrendo a métodos mais violentos, como punhais cravados pelas costas ou veneno no copo dos inimigos.
Na corte planaltina, a única coisa que os Bórgia de arrabalde conseguem é detonar a imagem do governo. Parece improvável que a lista do BB acrescente um voto que seja a favor da reeleição, transformada em objetivo tão importante para o governo que dá origem a conspirações de opereta.

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