São Paulo, sexta-feira, 20 de dezembro de 1996
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A MORAL DOS ESQUELETOS

O governo federal quer estender o regime automotivo ao Nordeste. Regime que, para o país, é discutível por conceder demais às montadoras.
Quanto ao Nordeste, é preciso lembrar que a questão do desenvolvimento regional foi abandonada nos últimos anos. A Sudene, que já foi anunciada como a Meca do desenvolvimentismo nordestino, foi relegada à condição de sub-repartição pública. Às margens de estradas nordestinas vêem-se hoje esqueletos de indústrias patrocinadas pelo Estado.
Na atual tentativa, não se criam repartições, não há megaprojetos regionais. Não é o Estado quem reúne as armas do desenvolvimento. Há a possibilidade de renúncia fiscal. Mas a instalação de fábricas no Nordeste depende das próprias montadoras -e as isenções tributárias seduzem, mas talvez sejam insuficientes.
Aliás, o Nordeste tem um potencial econômico ainda inexplorado ou pouco explorado, no turismo, na agroindústria e em outras indústrias que o governo mal contempla.
Uma MP não industrializa o Nordeste se não há um amadurecimento econômico mais amplo da região. Se alguma montadora ali se instalar pelas benesses federais, ótimo. Mas é ingênuo acreditar que o capital fluirá para regiões onde os mercados, ou seja, as populações têm baixo poder aquisitivo e onde em muitos casos já ocorreu o colapso da infra-estrutura.
O critério fundamental para um investimento dessa natureza é a proximidade de mercados consumidores. A concentração de indústrias no Sul e no Sudeste, sobretudo as de maior valor adicionado, caso dos automóveis, não ocorreu por obra do acaso ou do "imperialismo" sulista.
O Nordeste precisa de mais investimentos. Mas, se a ruptura com o padrão de concentração econômica regional dependesse de uma MP ou de renúncia fiscal, outros governos que deram subsídios e supostamente se comprometeram mais com a região já teriam resolvido o problema.
E não se veriam tantos esqueletos "incentivados" às margens das estradas nordestinas, muitos ao lado de tristes casas de pau-a-pique.

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