São Paulo, sexta-feira, 20 de dezembro de 1996
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A criatura e o criador

VALDO CRUZ

Brasília - O presidente Fernando Henrique Cardoso desabafou ontem. Esboçando um ar de quem já não aguenta mais o assunto, disse que o governo "não quer saber se bancada tal ou qual vai votar a favor da reeleição ou não. Votem como quiserem".
De duas, uma. Ou o presidente está no limite de sua paciência ou faz um grande jogo de cena. Enquanto isso, trabalha nos bastidores para ganhar o seu maior presente: a chance de disputar um novo mandato.
Como tudo em FHC, as duas coisas têm o seu lado verdade. Seu comportamento é dúbio. Chega a dizer sim para duas pessoas com reivindicações diferentes. É o eterno conflito do sociólogo com o presidente.
O Fernando Henrique Cardoso no limite da sua paciência com os políticos fisiológicos sonha com o melhor dos mundos: aprovar a reeleição sem nenhum custo. E se alguém vier lhe cobrar alguma coisa, que vote contra.
É esse o FHC que discursou ontem. Aquele que costuma confidenciar a assessores que as negociações para aprovar a reeleição têm um limite.
Já o FHC pragmático faz as suas costuras nos bastidores. Deu ordens a seus ministros para sair a campo e contornar todos os empecilhos que surgirem contra a reeleição.
Alguns de forma atabalhoada. Como o ministro Sérgio Motta (Comunicações), que quase colocou fogo no PSDB depois de exigir que seus colegas abandonassem a candidatura Wilson Campos à presidência da Câmara.
É esse FHC que, a contragosto, articula a candidatura do pefelista Antonio Carlos Magalhães para ocupar o posto de presidente do Senado.
O conflito entre os dois FHCs será uma constante durante todo o processo de negociação da reeleição.
E Fernando Henrique Cardoso já escolheu aquele que sairá vitorioso desse embate: o FHC pragmático, o que deseja permanecer mais quatro anos no Palácio do Planalto.
Quem tem alguma dúvida que converse com os amigos do FHC sociólogo. Eles vivem estimulando o FHC presidente.

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