São Paulo, sábado, 21 de dezembro de 1996
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Auditoria isenta funcionários e ministros

CARI RODRIGUES
MARTA SALOMON

CARI RODRIGUES; MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Investigação interna não identifica responsáveis por vazamento de lista de pepebistas que devem ao BB

A auditoria do Banco do Brasil sobre a quebra do sigilo bancário de nove políticos do PPB isentou os funcionários do banco e qualquer outra autoridade do governo de envolvimento na confecção e pelo vazamento da lista -que gerou uma crise no Planalto.
Em nota oficial, o BB informou que "não foram encontradas provas concretas que permitam imputar a responsabilidade a qualquer dos funcionários envolvidos".
O desfecho da crise contraria o roteiro previsto por governistas na quarta-feira, dia em que a auditoria interna do banco foi concluída.
Na ocasião, previa-se que pelo menos dois funcionários do BB seriam punidos pelo vazamento de informações bancárias.
"Foi mesmo um caso de 'arapongagem' privada", chegou a anunciar o líder do governo na Câmara, deputado Benito Gama (PFL-BA).
A Folha apurou que o caso da lista também não está sendo investigado oficialmente pela Polícia Federal, como chegou a ser anunciado pelos ministros Luiz Carlos Santos (Assuntos Políticos) e Sérgio Motta (Comunicações).
A auditoria classifica como "providência rotineira" a atualização de dados sobre débitos de parlamentares junto ao banco.
A atualização desses dados teria sido pedida pelo secretário-executivo Manoel Pinto ao coordenador parlamentar do BB, Waldemar Júnior. O motivo seria a cobrança de dívidas dos parlamentares.
Pinto ocupa o segundo posto na hierarquia do banco, abaixo do presidente, Paulo César Ximenes.
Com isso, a auditoria afirma que a polêmica lista com deputados da Executiva do PPB não foi pedida por ninguém de fora do banco -leia-se Palácio do Planalto.
"Não houve solicitação de quem quer que seja de fora do quadro de funcionários do banco", diz a nota oficial do BB.
O PPB denunciou a possibilidade de uso político da lista no momento em que o partido decidia como votaria a emenda constitucional que permite ao presidente Fernando Henrique Cardoso disputar um segundo mandato em 1998.
O PPB lançou suspeitas sobre Luiz Carlos Santos e o secretário-geral da Presidência, Eduardo Jorge Caldas Pereira, ambos defendidos por FHC.
Volta aos cargos
Diante do resultado da auditoria, está previsto para segunda-feira o retorno ao trabalho de Manoel Pinto e Waldemar Júnior -uma semana depois de terem sido afastados de seus cargos.
O funcionário da assessoria parlamentar Plínio Gonçalves Dutra, amigo do advogado do PPB Ronald Christian Bicca, responsável pela divulgação da lista, também poderá voltar ao trabalho.
Na última quarta-feira, Dutra contou ao presidente da Anabb (Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil), Valmir Marques Camilo, que as investigações o apontaram como um dos culpados por quebra do sigilo.
Dutra não compareceu ao banco na quinta-feira, temendo ser obrigado a assinar pedido de demissão.
Os advogados da Anabb não descartavam a chance de o funcionário ser preso, porque a Polícia Federal poderia ter sido acionada.
A eventual punição de Dutra, considerada certa na quarta-feira, foi criticada pelo advogado que recebeu o documento no Congresso.
"Essa história de 'arapongagem' não vai colar, estão querendo inverter as coisas", reagiu Bicca.
Dutra contou ao presidente da Anabb que sofreu pressão de funcionários do Departamento de Prevenção de Assaltos do BB. Ficou cinco horas trancado em uma sala até iniciar novo depoimento.

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