São Paulo, sábado, 21 de dezembro de 1996
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Rede estadual adota 'dependência' em 97

FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL

Os alunos das 7ª e 8ª séries da rede estadual de ensino que forem reprovados em no máximo três disciplinas vão poder fazer "dependência" a partir do próximo ano letivo.
Pelo sistema, o estudante ganha a aprovação como bonificação e cursa junto com a série seguinte as matérias em que foi reprovado.
O anúncio foi feito ontem pela secretária estadual da Educação, Rose Neubauer. Segundo ela, a medida faz parte de um conjunto de ações que visa diminuir a repetência na rede.
Essa é a segunda medida com esse objetivo anunciada esta semana. Na quarta-feira, a secretaria baixou uma resolução que estabeleceu um curso de recuperação durante o mês de janeiro para os alunos reprovados durante o ano letivo -proposta criticado por associações de professores (leia texto abaixo).
Hoje, o sistema de dependência é adotado no 2º grau. "É um incentivo para que o aluno mais velho, em geral trabalhador, não fique desmotivado e abandone a escola", explica Neubauer.
Para 97, o sistema será ampliado aos alunos das 7ª e 8ª séries de todos os períodos. Os alunos que estudam de manhã farão as aulas de dependência à noite e vice-versa.
Segundo a secretária, a repetência não traz nenhum benefício para o aluno. "É algo da cultura do século passado e já estamos reagindo muito tarde."
Repercussão
A proposta de ampliar o sistema de dependência é vista como positiva pelas associações de professores. Mas os representantes das entidades questionam seu método de implantação.
O secretário geral do Udemo (Sindicato de Especialistas de Educação do Magistério Oficial do Estado de São Paulo), Francisco Poli, 42, acredita que é uma medida eficaz no combate à repetência.
"Mas tudo deve ser discutido com a rede, o que até agora não foi feito", disse.
O presidente da Apeoesp (sindicato dos professores da rede estadual) -entidade que representa os 220 mil docentes do Estado-, Roberto Felício, 44, mostra-se crítico em relação às condições de implantação da dependência.
"Para ampliar o sistema, será necessário criar condições operacionais. Se as aulas da dependência serão feitas em outros períodos, como o governo vai arrumar salas e professores extras, já que as escolas estão sempre lotadas?", questiona Felício.
Em tese, ele afirma ser favorável a medidas que diminuam a repetência.
"Mas se não tomarmos cuidado, estaremos criando mecanismos que expulsam os alunos da escola cada vez mais rápido", disse.

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