São Paulo, sábado, 21 de dezembro de 1996
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Medida é vista com "desgosto"

DE BUENOS AIRES

Nos bastidores do governo argentino, os incentivos fiscais para as montadoras se instalarem nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil foram recebidos com "extremo desgosto".
Mesmo assim, não deve haver um protesto formal do presidente Carlos Menem ou de algum ministro endereçado ao Brasil.
Segundo a Folha apurou, Menem não quer que seu descontentamento atrapalhe o movimento político de Fernando Henrique Cardoso para a aprovação de sua reeleição.
A estratégia do governo argentino é pressionar por meio das montadoras, que já começaram a se manifestar.
"Ainda não resolvemos as antigas diferenças no setor automotivo e agora o Brasil cria mais uma. A Argentina ficou em desvantagem na disputa por investimentos estrangeiros", disse Mario Dasso, presidente da Adefa (Associação de Fábricas de Automotores).
No Ministério da Economia, a medida unilateral do Brasil foi interpretada como o início de uma bola de neve: os dois países começariam um leilão para atrair os investidores, fato que poderia acabar prejudicando o Mercosul e só ajudaria o capital exterior.
Os argentinos ficaram sabendo da medida durante a reunião do Mercosul em Fortaleza (CE), mas tinham a esperança de que a pressão das montadoras e dos políticos do Sudeste brasileiro impedisse a oficialização dos incentivos.
Reunião privada
A comitiva argentina em Fortaleza foi quem levantou o tema automotivo nas discussões.
Os representantes do Brasil, mais preocupados com a política de somar países-sócios ao bloco econômico, preferiram não citar o setor mais sensível à união alfandegária.
A Folha apurou que Menem e Fernando Henrique tiveram uma reunião privada em que discutiram o tema. Nela, ficou combinada uma reação amena por parte dos argentinos.
Os presidentes também acertaram uma reunião no início de janeiro do próximo ano entre os ministros da Indústria e Comércio dos dois países, Francisco Dornelles e Alieto Guadagni.
Nessa reunião, será decidida a forma de compensação para o setor automobilístico argentino.
Proposta de compensação
"No momento, estamos estudando a medida brasileira para poder conversar com as montadoras argentinas", afirmou o subsecretário de Indústria, Hector Gambarotta.
Segundo ele, a proposta argentina deve levar algumas semanas para ser finalizada.
O governo do país vizinho vai se reunir na segunda com os representantes das montadoras locais, para acertar os primeiros pontos da proposta de compensação.
A Fiat, que inaugurou anteontem sua nova fábrica em Córdoba, também mostrou seu desagrado.
"Nossos projetos no Mercosul não previam essas distorções. Nosso investimento na Argentina foi decidido pelas oportunidades apresentadas em um momento. Com a medida brasileira, o cenário mudou", queixou-se Paolo Cantarella, diretor-gerente da empresa.
As decisões unilaterais não são uma exclusividade do Brasil no âmbito do Mercosul.
A política argentina de aproximação dos Estados Unidos, encabeçada pelo chanceler Guido Di Tella, já criou descontentamento entre os negociadores brasileiros, que não foram informados sobre os acordos.

LEIA MAIS sobre a MP na pág. 2-6

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