São Paulo, sábado, 21 de dezembro de 1996
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Sotaques comprometem tributos a Tom

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Dois anos após sua morte, Tom Jobim continua inspirando tributos e homenagens -não só de músicos brasileiros, mas também europeus e norte-americanos.
"Tribute to Antonio Carlos Jobim" (Columbia/Sony), disco da cantora holandesa Josee Koning, prova que boas intenções não bastam para interpretar bem as canções do mestre da bossa nova.
Quem assistiu ao último festival Heineken Concerts, quando Josee apresentou-se como convidada de Dori Caymmi, já teve a chance de conferir os limitados recursos musicais da holandesa.
Os belos arranjos de Dori, que também produziu o disco, não conseguem esconder o desastre dos vocais. Apesar de ser uma antiga fã da MPB, Josee não convence cantando em português. Seu sotaque chega a irritar.
Versões de "Correnteza", "Lígia" e outras preciosidades jobinianas, com participações de feras como Paulinho da Costa (percussão), Don Grusin (teclados) e Tom Scott (sopros), só aumentam a sensação de desperdício que o trabalho causa.
Laura Fygi
Algo semelhante acontece no álbum "The Lady Wants to Know" (Mercury/PolyGram), da igualmente holandesa Laura Fygi -cantora pop na linhagem de Peggy Lee e Julie London, que também se aventura pela música brasileira.
Gravado há três anos, o disco não chega a ser um tributo ao mestre da bossa. Mas a inclusão no repertório de quatro composições de Jobim sugere a reverência.
Carregando na sensualidade, Laura oferece versões em inglês de "Dindi" e "Insensatez". Porém, não resiste à tentação e também escorrega no português, em alguns versos de "Corcovado" e "Triste". Com um sotaque mais incômodo ainda que o de Josee.
Selena Jones
Bem mais feliz foi a cantora Selena Jones, norte-americana radicada na Inglaterra, em seu disco-tributo "Sings Jobim with the Jobim's" (GHR/Velas).
Gravado em 1994, no Rio de Janeiro, esse álbum contou com a presença do próprio Tom Jobim e músicos de sua banda, como o filho Paulo Jobim (violão), Danilo Caymmi (flauta) e Paulo Braga (bateria).
Seguidora de Sarah Vaughan e dona de um belo vozeirão de contralto, Selena canta em inglês, com um fraseado levemente jazzístico, 14 clássicos jobinianos.
Em "I Was Just One More for You" e "Girl (Boy) from Ipanema", ela aparece ao lado do próprio Tom. "Somewhere in the Hills", "Dindi", "Bonita" e "Samba do Avião" trazem duos com Paulo Jobim.
Sem inventar, exceto algumas tiradas em "scat singing" (improviso vocal sem palavras), a cantora norte-americana sugere que não é preciso arranhar português para valorizar a música universal de Tom Jobim.

Disco: Sings Jobim with the Jobim's
Artista: Selena Jones
Lançamento: GHR/Velas
Disco: Tribute to Antonio Carlos Jobim
Artista: Josee Koning
Lançamento: Columbia/Sony
Disco: The Lady Wants to Know
Artista: Laura Fygi Lançamento: Mercury/PolyGram
Quanto: R$ 18, em média, cada CD

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