São Paulo, sábado, 21 de dezembro de 1996
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Libertado embaixador brasileiro no Peru

CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL A LIMA

Um grupo de 38 pessoas, entre elas o embaixador brasileiro no Peru, Carlos Luiz Coutinho Perez, foi libertado da casa do embaixador do Japão em Lima por volta de 19h25 (hora local, 22h25 em Brasília) pelo guerrilheiros do grupo Tupac Amaru.
Ainda há cerca de 350 reféns na casa. Coutinho, que saiu com seus colegas da Coréia do Sul e do Egito, disse que os três estavam entre os libertados para criar um canal de comunicação com o governo peruano e transmitir uma mensagem dos reféns e da guerrilha.
As negociações vêm sendo conduzidas pela Cruz Vermelha e pelo representante indicado pelo governo peruano, o ministro da Educação, Domingo Palermo.
Com um megafone, o parlamentar oposicionista Javier Díaz Canseco leu um comunicado dos guerrilheiros, no qual eles acusam o governo de não estar oferecendo uma contrapartida às concessões do grupo MRTA.
Eles citam a libertação de mulheres e idosos na noite de terça-feira, quando começou a crise. Reclamam de estar sendo chamado de "assassinos" e do corte de água, luz e linhas telefônicas na casa.
"A única solução possível para a libertação dos reféns passa pela libertação de nossos (guerrilheiros) detidos." Segundo o texto, a libertação de ontem não deve ser encarada como sinal de fraqueza.
O guerrilheiros esquerdistas também prometeram libertar mais um número "significativo" de reféns se puderem entrar em contato com os líderes do (MRTA) Movimento Revolucionário Tupac Amaru na cadeia.
A libertação de todos -cerca de 500- os integrantes do grupo presos é a principal exigência do MRTA. Eles também querem mudanças na política econômica do governo do presidente Alberto Fujimori.
Outra nota lida por Díaz foi escrita pelos reféns. Eles pedem que o governo peruano e os guerrilheiros do MRTA encontrem uma solução negociada para a crise e "evitem uma solução militar, o que provocaria muitas mortes".
O governo de Fujimori vem sendo pressionado pela comunidade internacional a conseguir uma solução de consenso.
Na tarde de ontem, antes da libertação, o governo peruano fez sua primeira declaração oficial sobre a crise. O Conselho de Ministros do Peru, Alberto Pandolfi, disse que o país quer resolver pacificamente a situação.
Fujimori apareceu pela primeira vez em público desde o início da crise anteontem à noite, quando recebeu o chanceler do Japão, Yukihiro Ikeda.
Situação precária
As condições de alojamento e higiene são precárias, segundo os libertados. o congressista Díaz disse que a falta de água impede que o uso de todos os banheiros e que se agravam os problemas de alimentação e saúde.
Segundo a Cruz Vermelha, há pessoas com problemas de úlcera, cardíacas e diabéticos, além de casos de diarréia.
Estão em poder dos reféns diplomatas de pelo menos 17 países, entre eles o do Japão, Morihisa Aoki.
Também são reféns o chanceler peruano, o ministro da Agricultura, o presidente da Corte Suprema de Justiça, cinco congressistas, o chefe da polícia antiterror e Pedro Fujimori, irmão do presidente.
Momentos antes da libertação, um segundo comunicado do grupo chegou por fax à agência de notícias "Associated Press". Nele, o MRTA afirma: "A rendição não existe em nosso vocabulário".
Mas, ao mesmo tempo, reiterou a disposição de uma solução negociada. Segundo a agência, o documento tinha o logotipo do grupo.

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