São Paulo, sábado, 21 de dezembro de 1996
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O DESGASTE DE FUJIMORI

É razoável supor que a ação terrorista do grupo MRTA (Movimento Revolucionário Tupac Amaru) resume-se a pescar em águas turvas. É claro que, acima de tudo, trata-se de mais uma ação insana, das muitas a que grupos esquerdistas recorreram na história latino-americana.
Mas até os mais ingênuos sabem que o terreno fica mais propício quando há dificuldades econômicas. É exatamente o que está acontecendo agora no Peru, depois de três anos consecutivos de crescimento econômico. Este ano, ao contrário, a economia peruana não deve crescer mais do que 2%, índice inferior ao do crescimento populacional.
É sintomático que o apoio ao presidente Alberto Fujimori tenha despencado desde o pico alcançado em janeiro. Fujimori perdeu 32 pontos percentuais nas pesquisas que medem a sua popularidade.
O ataque à embaixada do Japão serve para tentar desgastar mais o presidente, ao demonstrar que a subversão não está totalmente derrotada.
Essa intenção pode, no entanto, frustrar-se. Mesmo pressionado pelos países dos cujos representantes foram sequestrados, a tendência é supor que Fujimori recorrerá depois à mão dura, o que aliás lhe é característico, tão logo os olhos do mundo deixem de estar fixados em Lima.
Tratará de eliminar os resquícios do terrorismo até para reforçar sua pretensão de um terceiro mandato consecutivo. Mas agora as condições são outras: enquanto podia proclamar êxitos no front econômico, Fujimori contava com a complacência interna e externa para um combate à oposição armada que, não raro, enveredou por violações aos direitos humanos.
O estancamento econômico tende a produzir uma oposição mais consistente, que se manifeste não com o inadmissível recursos às armas, mas com argumentos que, agora, encontrarão ouvidos mais acolhedores.

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