São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 1996
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Punido considera ação do 'tribunal' justa

PAULO MOTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ICAPUÍ (CE)

O pescador Edvar Reinaldo da Silva, 22, diz que "considerou justo" ficar proibido de pescar por 15 dias, em outubro passado, conforme sentença ditada pelo "Tribunal Popular de Redonda".
Silva foi flagrado com cerca de dez quilos de lagosta miúda e portando um manzuá de malha fina, armadilha para a captura de lagostas imaturas considerada ilegal pelo "tribunal".
Analfabeto e pai de um filho, Silva foi réu do quinto julgamento do "tribunal". Em sua defesa, alegou que pescou ilegalmente porque "estava precisando de dinheiro urgentemente".
O presidente do "tribunal", Antônio Rocha Lima, diz que, como Silva era réu primário, recebeu a pena mais leve. Leia a seguir trechos de entrevista com Silva, realizada no dia 9.

*
Agência Folha - Por que você foi punido?
Edvar Reinaldo da Silva - Eu estava precisando de dinheiro urgentemente para pagar umas contas e saí para pescar. Como o dia estava ruim, apareceu (sic) umas lagostas miúdas e eu pesquei.
Agência Folha - Como foi que o pessoal do tribunal ficou sabendo do fato?
Silva - Não sei, mas acho que alguém me dedurou. O pessoal aqui é todo muito consciente e dedura logo. Não tem jeito.
Agência Folha - O que você achou da sua punição?
Silva - Achei justa. Se a comunidade decidiu uma coisa, a gente tem que respeitar. Só fiz isso "por precisão". No dia em que eu não quiser mais respeitar o que comunidade decidiu, eu vou embora.
Agência Folha - Em que medida a punição afetou sua vida?
Silva - Tirar um pescador do mar é o maior castigo que se pode dar a ele. Se eu paro de trabalhar, não tenho o que comer. Acho que, depois da punição, umas pessoas passaram a me olhar assim meio de banda, censurando.

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