São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 1996
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Apenas equivocados

JANIO DE FREITAS

Na semana de equívocos, o do ministro Sérgio Motta é, a um só tempo, o mais engraçado e o mais promissor. Como as concessões de rádio só têm validade se assinadas pelo ministro das Comunicações, o esquema para vendê-las a varejo e a granel por métodos de corrupção, noticiado e documentado pela Folha, não poderia existir sem contar com a indispensável tarefa ministerial.
Logo, a simples descarga da responsabilidade sobre a principal agenciadora das vendas, como fez o ministro, só valeu pelo embaraço perceptível em sua reação, além do mais, contraditória. Honrado com menção explícita, pela mesma vendedora, como colaborador do esquema em troca de outros serviços corruptos, com isso Sérgio Motta promete ser o centro de um problema que ninguém, muito menos ele, por ora sabe que consequências vai criar.
Equívoco não menos engraçado, porém mais explicável, foi o de Fernando Henrique Cardoso, ao dizer que "não está preocupado" com a reeleição, mas só "com o bem do país", não importando "saber se a bancada tal ou qual vai votar pela reeleição ou não, que votem como quiserem, o importante é o Brasil". Palavras provocadas, nota-se, pelo cansaço. Nem era para menos, àquela hora do dia: uma reunião no Alvorada entrara madrugada adentro, em negociações do presidente patriótico para adquirir mais votos favoráveis à reeleição. Como, aliás, tem acontecido todas as noites. E todos os dias.
Em se tratando de falações e equívocos, seria injusto esquecer o ministro Bresser Pereira, do qual se soube que está sem dinheiro no seu ministério para as indenizações por ele prometidas aos funcionários que se demitiram. O ministro está equivocado, porque os jornais de há menos de duas semanas têm seguidas declarações suas, assim: "Tenho 900 milhões para pagar as indenizações". Isto, quando seus sábios estudos previam mais de 30 mil demissionários. E o número ficou mesmo foi na casa dos 3 mil.
Diretor do Banco Central não pode se equivocar em milhares ou milhões. Lá são bilhões, sempre. E sempre destinados mais ou menos aos mesmos bolsos. Ainda que por uma escolha equivocada de lugar e hora. Como aconteceu a Gustavo Franco, que, de repente, resolveu avisar a ciranda financeira de que, nos próximos dias, o dinheiro estrangeiro nas Bolsas será dispensado de pagar a CPMF. As Bolsas subiram logo. Tanto quanto as presunções de que, mais uma vez, era impossível dissociar os altos ganhos de certos especuladores e o conhecimento prévio do que esteve na fala de Gustavo Franco. Qual nada, na direção do BC ninguém está ligado às chamadas informações privilegiadas: ali só acontecem equívocos, e por distração.

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