São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 1996 |
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Periferia usa sistema clandestino
ELVIRA LOBATO
Usuárias de um sistema clandestino, estas famílias pertecem ao mundo dos "high nada" -segmento no qual está incluída a maioria dos brasileiros, que não são atendidos pelas telefônicas. As famílias alugam um telefone no mercado paralelo. Em seguida, compram uma central telefônica, fios e uma impressora e conectam a central à linha alugada. Cada central atende a dez casas, como se fossem ramais de uma empresa. Só na Grande São Paulo existem cerca de 25 mil centrais coletivas em funcionamento. O sistema é clandestino porque só as telefônicas estatais podem puxar fios nas ruas. O uso de centrais só é permitido em condomínios residenciais e em empresas. Mais pobre, mais caro Quanto mais pobre e distante o bairro, mas alto o aluguel da linha. Nos Jardins (um dos bairros nobres de São Paulo) o aluguel custa R$ 123,30 por mês. Já em Tiradentes (na zona leste, a 40 Km do centro) custa R$ 336,50. Vila Penteado, na zona norte, é um dos reduto dos "high nada". Lá, cem casas têm telefone clandestino. Feixes de fios escuros cruzam os becos e vielas e são fixados nas fachadas das casas, porque é proibido usar os postes da Eletropaulo para tais ligações. Um feixe de dez fios desemboca na casa de Maria Aparecida dos Santos Teles, 63, que mora com três filhos e dois netos. A renda familiar é de R$ 700,00 por mês. A fiação passa sobre o varal e entra no único quarto da casa, onde fica a central telefônica. Um sistema como este custa R$ 3.200 para pagamento em quatro parcelas de R$ 800 por família. O aluguel do telefone também é rateado e a conta telefônica é dividida de acordo com o uso. Cada vez que uma família faz uma ligação, a central entra em funcionamento e registra o número discado e a casa que ligou. No final do mês, Iris Cerejo, 47, vizinha de Aparecida Teles, retira a lista da impressora, calcula o gasto de cada família e faz o pagamento. As duas contam que se inscreveram em um plano de expansão em 1992, nunca foram chamadas, e voltaram a se inscrever neste ano. O sonho delas não é ter um telefone exclusivo, mas alugar a linha para as centrais de quarteirão. Os sistemas de centrais são divulgados boca-a-boca na periferia e instalados por pequenas empresas. Gilberto Francisco Inácio, 35, atua no ramo há oito anos e já instalou 1.200 sistemas. Ele lidera um movimento pela legalização das centrais e argumenta que elas são a única forma de levar a telefonia às famílias de baixa renda e, ao mesmo tempo, viabilizar o serviço para as telefônicas. A conta média de uma central comunitária é de R$ 200,00 por mês, ou R$ 20,00 por família. Inácio diz que as telefônicas teriam prejuízo se estes usuários tivessem linhas exclusivas. (EL) Texto Anterior: Entrega de celular é imediata Próximo Texto: 'Plugado' tem nove linhas e seis micros Índice |
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