São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 1996
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OCDE aposta em convergência global

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Responde pelo nome pomposo de "convergência das condições cíclicas" o estado atual da economia internacional, segundo a OCDE (Organização Econômica para a Cooperação e o Desenvolvimento). Esse diagnóstico foi anunciado pelo órgão na semana passada.
Para os Estados Unidos a previsão é de "crescimento robusto e sustentável", enquanto a expansão continua também no Japão e na Europa. Nos próximos dois anos os riscos de inflação, entretanto, são considerados baixos, com exceção dos EUA e do Reino Unido, onde as economias estão em situação de pleno emprego.
O mesmo relatório, entretanto, contrapõe ao cenário basicamente róseo um aumento das dívidas públicas e das pressões financeiras exercidas por populações em processo de envelhecimento sobre os sistemas previdenciários.
Fica-se com a impressão de que a OCDE tem um diagnóstico macroeconômico positivo, mas uma avaliação de detalhes, das peças da máquina, preocupante.
O fato é que o crescimento no mundo desenvolvido continuará bastante moderado, bem abaixo do que se alcançou no pós-guerra. E o grande obstáculo a uma elevação dos padrões mundiais de crescimento é o desemprego, sobretudo o europeu. Mesmo com as previsões de retomada gradual do crescimento na União Européia, o número de desempregados deve continuar em 1997 na casa dos 18 milhões, ou 10,9% da população economicamente ativa.
Na França, o desemprego em breve ultrapassará os 13% (3 milhões de pessoas). A Espanha continua com o primeiro lugar da exclusão social, com nada menos que 22,3% da população sem emprego. A Alemanha, nos 9%.
Paradoxo
Para viabilizar o cenário positivo de longo prazo, de convergência cíclica, as economias precisariam fazer um ajuste fiscal. A partir desse ajuste, reduziriam suas taxas de juros, diminuindo o impacto de bola de neve do crescimento da dívida pública. Com juros menores as empresas investiriam mais, a princípio gerando mais empregos.
O paradoxo torna-se evidente. Para fazer o ajuste fiscal, é preciso cortar benefícios sociais. Justamente quando o desemprego é elevado. Aumentar impostos ou reduzir gastos tendem a produzir, no curto prazo, um aumento do desemprego. E a carga fiscal na Europa já é bastante elevada.
Entre a situação atual e as metas de longo prazo, por exemplo as do acordo de Maastricht (que regulamenta a criação da moeda única européia), surgem portanto dificuldades sociais e políticas nada desprezíveis.
Assim, o mesmo relatório da OCDE que aponta para um processo de equilíbrio e convergência inclui também um dos mais explícitos reconhecimentos do caráter político dos ajustes em questão.
Mas as dificuldades dos próximos anos não são apenas de natureza política. Embora nos últimos anos a OCDE tenha insistido nesse diagnóstico de convergência cíclica, o fato é que tal cenário ainda não está plenamente confirmado.
Ainda é discutível se a economia norte-americana vai mesmo em direção a um "crescimento robusto e sustentável". Foram seis anos de expansão econômica. No momento, os sinais são de desaquecimento, enquanto as Bolsas continuam eufóricas (na semana passada houve novo surto). E a OCDE acredita que em breve os juros de longo prazo deverão subir mais nos EUA para evitar que o crescimento pressione os preços.
Na UE e no Japão, embora os sinais sejam de recuperação, o ceticismo ainda é grande e o desemprego europeu é tão grande que acaba sendo um obstáculo à retomada do crescimento.
Aliás, na própria OCDE houve debates nas últimas semanas em torno dos efeitos do ajuste fiscal japonês sobre o crescimento nos próximos meses. Mas, em 1997, os números publicados mostram um crescimento ainda muito baixo, com a retomada acontecendo apenas em 1998 (ver tabela).
Até 1998, o cenário é portanto de convergência rumo ao crescimento baixo. Assim, a análise econômica torna ainda mais delicada a situação política. E ambas sugerem que a visão cor-de-rosa mais ampla é antes de mais nada um desejo que por enquanto ainda é difícil realizar.
Desejo que fica mais arriscado, ainda segundo o relatório da OCDE, quando se incorporam à análise os países que não pertencem ao clube dos mais ricos. Os exemplos citados são a instabilidade no Oriente Médio e a tendência à redução do crescimento em alguns países asiáticos (fortes importadores de bens da OCDE).

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